[ciência aberta]Nature Communications to become fully OA Fwd: [Open-education]
Miguel Said Vieira
msv em dev.full.nom.br
Quarta Setembro 24 00:39:09 UTC 2014
Oi Alê,
eu concordo com algumas das ressalvas que você fez (e até por isso havia
escrito que me parece que o problema é /concentrar/ o acesso aberto
nesse modelo). Pincei outros pontos em que discordo:
> Diante disso confio muito mais em organizações independentes, como o
> PLOS, que atua no mercado, encontrarem soluções para problemas e
> propagá-las, do que soluções "públicas".
A PLOS não é uma entidade pública, mas também não é exatamente "de
mercado": é uma organização sem finalidade de lucro, e talvez até por
isso seja capaz de fixar políticas mais amplas (e com critérios mais
objetivos) de descontos para pesquisadores de países pobres (a política
da Nature é vaga e cobre só os países de "low-income"; a da PLOS é bem
mais objetiva e cobre os de "low-" e "middle-income"). Nesse exemplo que
você deu, a questão pra mim é menos se é "público" (estatal) ou não, e
mais se segue uma lógica mercantil (em linhas gerais, a PLOS não segue).
> Todos os demais problemas, como os mencionados periódicos predatórios,
> só existem pelo absurdo que é o atual sistema de contagem de pontos,
> decorrente da incapacidade cognitiva da academia, e não vão melhorar
> com um ou outro modelo
Nesse caso, acho que é relevante considerar que o modelo ouro "encaixa
como luva" nos sistemas de contagens de pontos: a Fapesp tem uma linha
de apoio pra pagar APCs, e o primeiro critério de avaliação é... o
histórico de publicação. É meio que uma espiral produtivista: quem mais
publica, mais terá facilidade pra publicar; a gente sabe que essa
espiral é enorme e anterior ao próprio acesso aberto, mas o modelo ouro
serve bem como mais uma engrenagem.
De qualquer jeito, concordo que não dá pra ser uma crítica absoluta, e
sim uma problematização dessa via e das suas potenciais consequências
futuras (por exemplo, a ampliação dessa espiral produtivista, e a
multiplicação das editoras predatórias).
Aceitando a instigada do Tom, estou escrevendo um post com a minha
posição sobre esse debate. :-)
Abraços!
Miguel
On 09/23/2014 09:01 PM, Alexandre Hannud Abdo wrote:
> Ni!
>
> Eu acho que devemos tomar cuidado sobre como criticamos a modalidade
> de acesso aberto financiada por quem submete.
>
> Esse modelo resolve o principal problema que provocou o movimento de
> Acesso Aberto: dar acesso à produção científica.
>
> E a lógica desse modelo é muito clara, coerente e positiva, propondo
> que faz parte do custo de uma pesquisa financiar a sua disseminação.
>
> E quando todos tem acesso à produção, ainda faz-se justiça ao que as
> nações desenvolvidas, os grandes publicadores de ciência, custeiam
> proporcionalmente sua disseminação.
>
> Além disso, se editoras começaram a prestar novos serviços e os
> pesquisadores começaram a usá-los, estão suprindo uma demanda e o
> resultado instantâneo é positivo para todos os envolvidos.
>
> Podemos até perguntar se a demanda é artificial, se há desperdício
> etc. Mas essas são coisas que, na discussão do acesso, apenas depois
> de décadas de conivência e paralisia da comunidade científica
> tornaram-se problemas.
>
> Na discussão desses novos modelos, são novos mercados ainda em
> formação, diante de uma outra comunidade científica.
>
> Comunidade que, se capaz de coordenar-se, define as políticas de
> remuneração e financiamento, que traz em si a demanda, que pode
> determinar quem e como irá serví-la.
>
> Se incapaz de coordenar-se, tão menos poderá vir a substituir o papel
> do mercado em atender essa demanda.
>
> E nisso chegamos a um ponto muito maior que Acesso Aberto.
>
> Não será um modelo ou outro de acesso que irá definir se a academia
> será capaz de desenvolver inteligência conjunta para recuperar o rumo
> da ciência junto à sociedade.
>
> Qualquer modelos pode ser saudável se a academia recuperar sua
> racionalidade.
>
> E na atual conjuntura brasileira, acho muito engraçado se falar na
> academia tomando conta de mais, quando mal dá conta de cuidar do que
> já tem, de desenvolver perspectivas não antiquadas sobre como já se
> organiza.
>
> Diante disso confio muito mais em organizações independentes, como o
> PLOS, que atua no mercado, encontrarem soluções para problemas e
> propagá-las, do que soluções "públicas". E o próprio PLOS já resolveu
> esse problema apontado por vocês, pois só cobram para publicar de quem
> tenha recursos para isso, quem solicita isenção justificada publica
> gratuitamente.
>
> Todos os demais problemas, como os mencionados periódicos predatórios,
> só existem pelo absurdo que é o atual sistema de contagem de pontos,
> decorrente da incapacidade cognitiva da academia, e não vão melhorar
> com um ou outro modelo, pois eles existiam com a mesmíssima essência
> antes do acesso aberto, na forma dos bundles das grandes editoras, e
> continuarão existindo e até piorariam num sistema "público", com
> incontáveis publicações inúteis se acumulando por corporativismo
> acadêmico e sendo incorrigivelmente financiadas pela viúva.
>
> Então muita calma antes de tacar pedra em conquistas que efetivamente
> melhoram a vida de centenas de milhares de pesquisadores, e bilhões de
> cidadãos, nos lugares mais frágeis do planeta.
>
> Vamos aproveitá-las e nos apoiar nelas para construir outras, não
> ficar comparando-as com irrealidades.
>
> Abs,
> ale
> .~´
>
>
> 2014-09-23 18:35 GMT-03:00 Everton Zanella Alvarenga
> <everton.alvarenga em okfn.org <mailto:everton.alvarenga em okfn.org>>:
>
> Esses pontos levantados por Ewout, Viviane e Miguel tem em algum
> blog em português?
>
> Valeria muito posts de blog sobre o assunto. Inclusive sobre suas
> teses. ;)
>
> O Ewout está acostumado com blogs, mas se alguém precisar de
> ajuda, estou copiando a Jamila que poderá dar uma mão para
> publicarmos no cienciaaberta.net <http://cienciaaberta.net>. :)
>
> Tom
>
> Em 23 de setembro de 2014 18:21, Miguel Said Vieira
> <msv em dev.full.nom.br <mailto:msv em dev.full.nom.br>> escreveu:
>
> O modelo ouro também é o que viabiliza as chamadas "editoras
> predatórias", que fazem da publicação em acesso aberto um
> negócio em que o lucro é maximizado pela redução drástica dos
> padrões de qualidade exigidos na revisão por pares -- ou mesmo
> pela eliminação da revisão, na prática: se pagar, publica.
> (Como a Viviane, discuti isso na minha tese.)
>
> Embora obviamente nem toda editora trabalhando com o modelo
> ouro siga essa linha (é pouco provável que o acesso aberto em
> Nature e Science, por exemplo, adote padrões de qualidade
> inferiores), concordo com a avaliação de que é problemática a
> tendência em concentrar o acesso aberto nesse modelo, em que a
> publicação continua sendo uma prática bastante mercantilizada.
>
> Abraços,
> Miguel
>
>
> --
> Everton Zanella Alvarenga (also Tom)
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