[ciência aberta]Nature Communications to become fully OA Fwd: [Open-education]

Ewout ter Haar ewoutterhaar em gmail.com
Quinta Setembro 25 21:59:17 UTC 2014


O Abdo falou muitas coisas verdadeiras, e o post do Miguel é muito bom,
quisera eu escrever assim... De uma certa forma pode dizer, quem se importa
o que a Nature faz, mais OA, como pode ser ruim isso? Mas algo não bate
para mim. Continua sendo verdade que dinheiro público (pesquisa é feita com
dinheiro público) flui para uma organização com fins lucrativas. É uma
troca justa? É no interesse da sociedade e ciência no longo prazo? É
demonstrado que $500 / artigo é possível. O arxiv estima $7 / submissão. Um
fator 10 indica monopólio.

Tem mais coisas que me incomodam.

O que provocou o movimento OA é muito mais que dar acesso à produção
científica:  a crise dos preços das revistas, o monopólio de controle da
literatura em mãos privadas, o uso dinheiro público exacerbando a
concentração de riqueza nas mãos de grandes corporações, o desejo de mais
citações e visibilidade, os ganhos econômicos dando acesso a pequenas
empresas.

Dizer que a única consideração do movimento OA deve ser "acesso" não faz
sentido para mim. A forma que OA é implementado é importante. Primeiro,
porque não dá para considerar o acesso sem levar em conta (entre outras
coisas) o lado da produção. Segundo, porque somente focar no total de
acesso não leva em conta questões distribucionais (de acesso, de poder, de
controle, de dinheiro).

Exemplificando o segundo caso: como seria um mundo onde toda produção
científica somente pode ser publicado no Elsevier, sob CC-BY? Para mim,
algo assim seria possível, um pesadelo e não vou comemorar um passo nesta
direção. Como já falei, não acredito que somente licenças CC-BY vão ser
suficientes para resistir as forças concentradoras do mercado. Precisamos
de mais ferramentas conceituais, entendimentos comum, ferramentas
regulatórios para conter estas forças concentradores de poder e riqueza.

Tenho uma visão mais ambiciosa  para o movimento OA: deve lutar para uma
infraestrutura de apoio à comunicação científica pública, pluralista, com
gestão modelado naquela do internet no brasil (*multistakeholder*), ou
seja, com amplas possibilidades para iniciativa privada, mas assegurando
mecanismos antimonopolistas. Ou seja, "pública" não quer necessariamente
dizer Stalinista ou corporativista à moda das burocracias brasileiras.

Num arcabouço normativo que somente contempla acesso e define OA = CC-BY
como único critério de avaliação, não tem como expressar estes anseios por
um mundo justo.

Ewout

[Tenho uma hipótese sobre a causa de parte do movimento OA focar
exclusivamente em acesso, insistindo que o único tipo de OA "verdadeiro" é
BOAI = CC-BY e de forma geral preferindo OA do tipo ouro ao do tipo verde
(em repositórios) ou do tipo "platina" [1]. É uma posição utilitarista, que
tente maximizar um único número (utilidade para economistas, "bem estar"
para filósofos do século 19, quantidade de acesso para ativistas de OA).

Todos os problemas com utilitarismo podem ser levantados contra a visão
estreita de OA: um-dimensionalidade do conceito  "acesso" e falta de
preocupação sobre equidade. Para um utilitarista, um pouco mais de acesso é
sempre melhor, independente da maneira que o acesso foi obtido.]

[1] O caminho de platina é o Scielo, Redalyc: revistas, licenças abertas,
financiados não pelos autores mas pelas organizações de fomento. Não vai
ouvir muita discussão sobre isto nos países Anglo-saxões, acredito eu
porque no debate pública lá é uma visão muito extrema-esquerda demais para
os gostos neo-liberais de lá :)

2014-09-23 21:01 GMT-03:00 Alexandre Hannud Abdo <abdo em member.fsf.org>:

> Ni!
>
> Eu acho que devemos tomar cuidado sobre como criticamos a modalidade de
> acesso aberto financiada por quem submete.
>
> Esse modelo resolve o principal problema que provocou o movimento de
> Acesso Aberto: dar acesso à produção científica.
>
> E a lógica desse modelo é muito clara, coerente e positiva, propondo que
> faz parte do custo de uma pesquisa financiar a sua disseminação.
>
> E quando todos tem acesso à produção, ainda faz-se justiça ao que as
> nações desenvolvidas, os grandes publicadores de ciência, custeiam
> proporcionalmente sua disseminação.
>
> Além disso, se editoras começaram a prestar novos serviços e os
> pesquisadores começaram a usá-los, estão suprindo uma demanda e o resultado
> instantâneo é positivo para todos os envolvidos.
>
> Podemos até perguntar se a demanda é artificial, se há desperdício etc.
> Mas essas são coisas que, na discussão do acesso, apenas depois de décadas
> de conivência e paralisia da comunidade científica tornaram-se problemas.
>
> Na discussão desses novos modelos, são novos mercados ainda em formação,
> diante de uma outra comunidade científica.
>
> Comunidade que, se capaz de coordenar-se, define as políticas de
> remuneração e financiamento, que traz em si a demanda, que pode determinar
> quem e como irá serví-la.
>
> Se incapaz de coordenar-se, tão menos poderá vir a substituir o papel do
> mercado em atender essa demanda.
>
> E nisso chegamos a um ponto muito maior que Acesso Aberto.
>
> Não será um modelo ou outro de acesso que irá definir se a academia será
> capaz de desenvolver inteligência conjunta para recuperar o rumo da ciência
> junto à sociedade.
>
> Qualquer modelos pode ser saudável se a academia recuperar sua
> racionalidade.
>
> E na atual conjuntura brasileira, acho muito engraçado se falar na
> academia tomando conta de mais, quando mal dá conta de cuidar do que já
> tem, de desenvolver perspectivas não antiquadas sobre como já se organiza.
>
> Diante disso confio muito mais em organizações independentes, como o PLOS,
> que atua no mercado, encontrarem soluções para problemas e propagá-las, do
> que soluções "públicas". E o próprio PLOS já resolveu esse problema
> apontado por vocês, pois só cobram para publicar de quem tenha recursos
> para isso, quem solicita isenção justificada publica gratuitamente.
>
> Todos os demais problemas, como os mencionados periódicos predatórios, só
> existem pelo absurdo que é o atual sistema de contagem de pontos,
> decorrente da incapacidade cognitiva da academia, e não vão melhorar com um
> ou outro modelo, pois eles existiam com a mesmíssima essência antes do
> acesso aberto, na forma dos bundles das grandes editoras, e continuarão
> existindo e até piorariam num sistema "público", com incontáveis
> publicações inúteis se acumulando por corporativismo acadêmico e sendo
> incorrigivelmente financiadas pela viúva.
>
> Então muita calma antes de tacar pedra em conquistas que efetivamente
> melhoram a vida de centenas de milhares de pesquisadores, e bilhões de
> cidadãos, nos lugares mais frágeis do planeta.
>
> Vamos aproveitá-las e nos apoiar nelas para construir outras, não ficar
> comparando-as com irrealidades.
>
> Abs,
> ale
> .~´
>
>
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