[okfn-br] Fazer-cracia

Edgar Zanella Alvarenga edgar em ymonad.com
Sábado Agosto 16 16:19:53 UTC 2014


Para de continuar essa discussão aberta de forma fechada! :^P

On Sat, Aug 16, 2014 at 01:16:22PM -0300, Everton Zanella Alvarenga wrote:

> O que aprecio na fazer-cracia é o fato de que em geral a postura das pessoas se
> apegam a detalhes para criticar destrutivamente ou apontar erros. O que é
> natural, nem todos tem competência para fazer algumas coisas acontecerem (claro
> que todos tem alguma competência, sobre diversas coisas).
> 
> Veja, como exemplo, quem critica a OKCentral, mas não faz melhor. Ou critica os
> projetos da Wikimedia feito por gente paga, mas se ninguém tenta fazer algo (e
> nesse caso é difícil muitos assumirem boa fé), fica tudo parado. O caso
> Wikimedia é bem emblemático. 
> 
> 
> Em 16 de agosto de 2014 13:11, Edgar Zanella Alvarenga <e em vaz.io> escreveu:
> 
>     O link que passou diz:
> 
>     In a do-ocracy, everyone does jobs that they think need to be done, without
>     everyone’s input.
> 
>     Isso pra mim é um problema por diversos motivos. Mas dando apenas um
>     exemplo simples, quando assinaram uma abaixo assinado em nome da OKBR sem
>     consultar a todos foi gerado um rebuliço na lista.
> 
>     E  lendo a página que passou acho que você está reclamando das suas
>     obrigações burocráticas por causa dos riscos inerentes da fazer-cracia:
>       □ Resentment. If only a minority of participants in the community
>         do-ocratize themselves into the hard jobs, they can resent others who
>         don’t take on responsibility.
>       □ Complacency. If a minority of people take on jobs, the others can
>         become complacent and ignore new tasks, since “someone else will do
>         it.”
> 
>     Mas como você é tão fã da fazer-cracia, agora sou contra a contratação de
>     alguém pra te ajudar! :D Brincadeira.
> 
>     (( Ou você está caindo no danger The Martyrdom Complex?!? ))
> 
> 
>     2014-08-16 12:07 GMT-03:00 Everton Zanella Alvarenga <tom em okfn.org.br>:
> 
> 
> 
>         Em 16 de agosto de 2014 10:53, Edgar Zanella Alvarenga <e em vaz.io>
>         escreveu:
> 
> 
>             Isso é o tipo de idéia que pode ser muito bonita na teoria, mas na
>             verdade se for analisar mais a fundo vai encontrar diversos
>             problemas. Um exemplo de problema, você pode canalizar o poder de
>             decisão em certos temas de uma organização apenas para um grupo
>             pequeno de pessoas que possuam maior conhecimento de uma área
>             específica, ou pior, por razões históricas e não de competência
>             necessariamente. Outro problema está no trecho que escreveu
>             "indivíduos escolhem regras e tarefas para eles mesmos e as
>             executam", e se as regras e tarefas escolhidas pelo indíviduo não
>             estão em sincronia com as idéias da maior parte do grupo? Por
>             exemplo, lembro-me do Abdo enviando um email da lista fechada para
>             a lista aberta, talvez por ele ver o papel dele em dar o exemplo de
>             como uma organização mais horizontal e com maior participação da
>             comunidade deve ser.
> 
> 
>         Claro que essa prática tem riscos. Você apontou apenas um. Podemos
>         pensar em outros, aqui uma lista (ver seção 'Danger'):
> 
>         http://www.communitywiki.org/cw/DoOcracy
>          
> 
> 
>             E eu não entendo se você gosta tanto da fazer-cracia, por que
>             continua a existir uma lista fechada para discussão de quais
>             projetos serão realizados pela OKBR? Isso não vai contar o que você
>             mesmo disse "Responsabilidades ficam atribuídas para pessoas que
>             fazem o trabalho, em vez de representantes eleitos ou selecionados"
>             ? A responsabilidade de decisão dos projetos não está atribuída ao
>             pequeno grupo do conselho que foi previamente selecionado por você?
>             Ou teve uma eleição?
> 
> 
>         Foi selecionado por mim. Estávamos criando uma estrutura legal mínima,
>         que resultou no estatuto:
> 
>         http://br.okfn.org/estatuto
> 
>         Na minha opinião é preciso de alguma estrutura e definir processos,
>         pois pode acabar em casos em que surgem tiranias em grupos sem
>         estrutura: http://flag.blackened.net/revolt/hist_texts/
>         structurelessness.html
> 
>         No caso atual, o objetivo era criar uma organização sem fins lucrativos
>         que apoiasse o grupo local sendo formado desde 2011 <http://
>         wiki.okfn.org/Chapter/Brazil/people>, quando a Open Knowledge me
>         convidou para ser 'community coordinator' (coordenador de comunidade).
>         Foi esse meu desejo com o apoio de algumas pessoas mais ativas nesse
>         grupo local, com algum apoio da Open Knowledge Central para criar uma
>         organização sustentável (o apoio seria de 6 a 12 meses, que acabou
>         sendo na prática 5 meses, 4 eu trabalhando pro-bono).
> 
>         Vou usar como exemplo a criação de um estatuto para mostrar como a
>         fazer-cracia pode funcionar. Após um grupo de pessoas apoiar e ver a
>         necessidade da criação de uma estrutura legal para as atividades que
>         eles vêm fazendo há anos, a Letícia envia e-mails para a lista do grupo
>         local, cria um pad, lista exemplos de estatutos, começa a redigir o
>         texto de um estatuto levando em consideração e comentários esparsos,
>         mas ainda sem algum corpo de estatuto. O estatuto vai sendo formado, a
>         Letícia continua pedindo contribuições (e-mail, telefonemas, conversas
>         informais etc.) e o corpo do texto vai sendo formado. Ela percebe que
>         ainda falta muita coisa para ter um texto esteja bom para a
>         organização, então busca ajuda de uma organização que dá esse apoio
>         pro-bono e mais uma pessoa com experiência no assunto, que recebeu uma
>         contribuição financeira simbólica (da Letícia) para sua redação, já que
>         a Letícia não estava dando conta.
> 
>         Coisas que a Letícia queria para a estrutura da organização era que
>         tivesse um 'board' (ou diretores da organização [1], no caso da OKBr o
>         conselho deliberativo, pessoas mais próximas e que apoiam a construção
>         da organização, todas com dedicação voluntária, esses não recebem nada
>         financeiro) e um conselho consultivo (pessoas do grupo local que vinham
>         apoiando nos últimos anos através de ações concretas, opiniões e
>         conselhos), assim como um conselho fiscal e, claro, alguém responsável
>         pela execução das coisas, exigência para essa estrutura mínima.
> 
>         [1] Mais sobre algumas atribuições para os diretores, conselhos,
>         executivo etc. de uma organização de uma sociedade civil, sugiro o
>         livro "Mais dinheiro para sua causa", do Daniel Kelley <http://
>         www.amazon.com/Mais-Dinheiro-para-sua-Causa/dp/0988594242>. Livro
>         indicado por consultoras que dedicaram boas horas pro-bono para apoiar
>         a OBr.
> 
>         E por que a Letícia fez essa estrutura e escolheu essas pessoas? Porque
>         ela era a pessoa responsável (apoiada por várias outras) para a criação
>         dessa organização e fez escolhas de pessoas de sua confiança.
> 
>         E como as coisas começaram a funcionar, após algumas dezenas de pessoas
>         terem acordado um estatuto que regiria essa organização que daria
>         suporte à rede? Conforme o que está no estatuto.
> 
>         A Letícia percebia da importância de criar um regimento interno para
>         definir coisas como esse processo de decisão. Com o apoio de uma
>         consultoria pro-bono e alguns voluntários, ela organizou um encontro
>         para fazer um planejamento estratégico da organização/rede. Mandou
>         e-mails, criou texto de blog, convidou por telefone, explicou a
>         importância do encontro, argumento que metade de um dia não era
>         suficiente  (e não foi), entre outras coisas. Depois Letícia tinha que
>         continuar a organizar o documento do planejamento, reportar para o
>         grupo, criar um regimento (chamem o que quiser, sei que pessoas
>         rebeldes devem detestar o termo) entre milhares de outras coisas.
> 
>         Ela convidou as pessoas do seu grupo para ajudar com isso, mas o máximo
>         que obteve foi, novamente, críticas pontuais e esparsas sobre diversas
>         coisas que foram surgindo na medida em que as coisas começaram a
>         ocorrer (captação de recursos, execução de projetos, lidar com
>         conflitos, assinaturas de cartas, contratações, pagamento de contas,
>         viagens, negociações etc. etc. etc.).
> 
>         E agora, como será que essa história vai acabar? Como as coisas irão
>         para frente? A Letícia poderia sentar a cadeira na bunda e começar a
>         escrever esse processo. É claro que isso causariam várias críticas, ela
>         ouviria de várias pessoas que está tudo errado. E os motivos estão bem
>         resumidos na história da fazer-cracia que traduzi.
>          
> 
>             Mas não veja meus questionamentos como uma provocação, realmente
>             estou tentando entender o que realmente quer dizer com seu conceito
>             de fazer-cracia e até que ponto acredita que isso possa ser seguido
>             na estrutura da OKBR. Na prática, o que isso implicaria na OKBR?
> 
> 
> 
>         A Letícia sabe que o modelo não é sustentável, que ela precisa de
>         apoio, tanto na execução quanto na concepção, como ocorreu em outros
>         momentos. E é para isso que ela está começando a pensar (e agir) em
>         formas de melhorar a estrutura criada, os processos criados ou em
>         formação
>          
> 
> 
>             Ah sim, você tem algum outro exemplo de fazer-cracia seguido para a
>             estruturação de alguma organização fora o evento Burning Man?
> 
> 
> 
>         Não sei direito sobre o Burning Man, exceto o que o Abdo explicou sobre
>         o evento e as fotos que vi. Não sei muito sobre ele, apenas que não me
>         agrada a ideia, apesar de toda excentricidade dele.
> 
>         Podemos pensar na Open Knowledge Conference que vi em 2011. Foi lá que
>         vi coisas acontecerem mesmo com claras limitações de recursos humanos e
>         financeiros - cartazes feitos a mão, pessoas trabalhando juntas,
>         workshops sobre diversos assuntos interessantes, uma rede global em
>         torno de um assunto que gosto se reunindo. Minha sensação era a de ter
>         encontrado uma grande afinidade com um grupo que queria ver coisas
>         acontecerem com um propósito comum que estou envolvido faz tempo.
> 
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