[okfn-br] Fazer-cracia
Edgar Zanella Alvarenga
e em vaz.io
Sábado Agosto 16 16:11:32 UTC 2014
O link que passou diz:
*In a do-ocracy, everyone does jobs that they think need to be done,
without everyone’s input.*
Isso pra mim é um problema por diversos motivos. Mas dando apenas um
exemplo simples, quando assinaram uma abaixo assinado em nome da OKBR sem
consultar a todos foi gerado um rebuliço na lista.
E lendo a página que passou acho que você está reclamando das suas
obrigações burocráticas por causa dos riscos inerentes da fazer-cracia:
- *Resentment*. If only a minority of participants in the community
do-ocratize themselves into the hard jobs, they can resent others who don’t
take on responsibility.
- *Complacency*. If a minority of people take on jobs, the others can
become complacent and ignore new tasks, since “someone else will do it.”
Mas como você é tão fã da fazer-cracia, agora sou contra a contratação de
alguém pra te ajudar! :D Brincadeira.
(( Ou você está caindo no danger *The Martyrdom Complex*?!? ))
2014-08-16 12:07 GMT-03:00 Everton Zanella Alvarenga <tom em okfn.org.br>:
>
>
> Em 16 de agosto de 2014 10:53, Edgar Zanella Alvarenga <e em vaz.io>
> escreveu:
>
> Isso é o tipo de idéia que pode ser muito bonita na teoria, mas na verdade
>> se for analisar mais a fundo vai encontrar diversos problemas. Um exemplo
>> de problema, você pode canalizar o poder de decisão em certos temas de uma
>> organização apenas para um grupo pequeno de pessoas que possuam maior
>> conhecimento de uma área específica, ou pior, por razões históricas e não
>> de competência necessariamente. Outro problema está no trecho que escreveu *"indivíduos
>> escolhem regras e tarefas para eles mesmos e as executam"*, e se as
>> regras e tarefas escolhidas pelo indíviduo não estão em sincronia com as
>> idéias da maior parte do grupo? Por exemplo, lembro-me do Abdo enviando um
>> email da lista fechada para a lista aberta, talvez por ele ver o papel dele
>> em dar o exemplo de como uma organização mais horizontal e com maior
>> participação da comunidade deve ser.
>>
>
> Claro que essa prática tem riscos. Você apontou apenas um. Podemos pensar
> em outros, aqui uma lista (ver seção 'Danger'):
>
> http://www.communitywiki.org/cw/DoOcracy
>
>
>>
>> E eu não entendo se você gosta tanto da fazer-cracia, por que continua a
>> existir uma lista fechada para discussão de quais projetos serão realizados
>> pela OKBR? Isso não vai contar o que você mesmo disse *"Responsabilidades
>> ficam atribuídas para pessoas que fazem o trabalho, em vez de
>> representantes eleitos ou selecionados"*? A responsabilidade de decisão
>> dos projetos não está atribuída ao pequeno grupo do conselho que foi
>> previamente selecionado por você? Ou teve uma eleição?
>>
>
> Foi selecionado por mim. Estávamos criando uma estrutura legal mínima, que
> resultou no estatuto:
>
> http://br.okfn.org/estatuto
>
> Na minha opinião é preciso de alguma estrutura e definir processos, pois
> pode acabar em casos em que surgem tiranias em grupos sem estrutura:
> http://flag.blackened.net/revolt/hist_texts/structurelessness.html
>
> No caso atual, o objetivo era criar uma organização sem fins lucrativos
> que apoiasse o grupo local sendo formado desde 2011 <
> http://wiki.okfn.org/Chapter/Brazil/people>, quando a Open Knowledge me
> convidou para ser 'community coordinator' (coordenador de comunidade). Foi
> esse meu desejo com o apoio de algumas pessoas mais ativas nesse grupo
> local, com algum apoio da Open Knowledge Central para criar uma
> *organização* sustentável (o apoio seria de 6 a 12 meses, que acabou
> sendo na prática 5 meses, 4 eu trabalhando pro-bono).
>
> Vou usar como exemplo a criação de um estatuto para mostrar como a
> fazer-cracia pode funcionar. Após um grupo de pessoas apoiar e ver a
> necessidade da criação de uma estrutura legal para as atividades que eles
> vêm fazendo há anos, a Letícia envia e-mails para a lista do grupo local,
> cria um pad, lista exemplos de estatutos, começa a redigir o texto de um
> estatuto levando em consideração e comentários esparsos, mas ainda sem
> algum corpo de estatuto. O estatuto vai sendo formado, a Letícia continua
> pedindo contribuições (e-mail, telefonemas, conversas informais etc.) e o
> corpo do texto vai sendo formado. Ela percebe que ainda falta muita coisa
> para ter um texto esteja bom para a organização, então busca ajuda de uma
> organização que dá esse apoio pro-bono e mais uma pessoa com experiência no
> assunto, que recebeu uma contribuição financeira simbólica (da Letícia)
> para sua redação, já que a Letícia não estava dando conta.
>
> Coisas que a Letícia queria para a estrutura da organização era que
> tivesse um 'board' (ou diretores da organização [1], no caso da OKBr o
> conselho deliberativo, pessoas mais próximas e que *apoiam a construção
> da organização*, todas com dedicação *voluntária*, esses não recebem nada
> financeiro) e um conselho consultivo (pessoas do grupo local que vinham
> apoiando nos últimos anos através de ações concretas, opiniões e
> conselhos), assim como um conselho fiscal e, claro, alguém responsável pela
> *execução* das coisas, exigência para essa estrutura mínima.
>
> [1] Mais sobre algumas atribuições para os diretores, conselhos, executivo
> etc. de uma organização de uma sociedade civil, sugiro o livro "Mais
> dinheiro para sua causa", do Daniel Kelley <
> http://www.amazon.com/Mais-Dinheiro-para-sua-Causa/dp/0988594242>. Livro
> indicado por consultoras que dedicaram boas horas pro-bono para apoiar a
> OBr.
>
> E por que a Letícia fez essa estrutura e escolheu essas pessoas? Porque
> ela era a *pessoa responsável* (apoiada por várias outras) para a criação
> dessa organização e *fez escolhas* de *pessoas* de sua *confiança*.
>
> E como as coisas começaram a funcionar, após algumas dezenas de pessoas
> terem acordado um estatuto que regiria essa organização que daria suporte à
> rede? Conforme o que está no estatuto.
>
> A Letícia percebia da importância de criar um regimento interno para
> definir coisas como esse processo de decisão. Com o apoio de uma
> consultoria pro-bono e alguns voluntários, ela organizou um encontro para
> fazer um planejamento estratégico da organização/rede. Mandou e-mails,
> criou texto de blog, convidou por telefone, explicou a importância do
> encontro, argumento que metade de um dia não era suficiente (e não foi),
> entre outras coisas. Depois Letícia tinha que continuar a organizar o
> documento do planejamento, reportar para o grupo, criar um regimento
> (chamem o que quiser, sei que pessoas rebeldes devem detestar o termo)
> entre milhares de outras coisas.
>
> Ela convidou as pessoas do seu grupo para ajudar com isso, mas o máximo
> que obteve foi, novamente, críticas pontuais e esparsas sobre diversas
> coisas que foram surgindo na medida em que as coisas começaram a ocorrer
> (captação de recursos, execução de projetos, lidar com conflitos,
> assinaturas de cartas, contratações, pagamento de contas, viagens,
> negociações etc. etc. etc.).
>
> E agora, como será que essa história vai acabar? Como as coisas irão para
> frente? A Letícia poderia sentar a cadeira na bunda e começar a escrever
> esse processo. É claro que isso causariam várias críticas, ela ouviria de
> várias pessoas que está tudo errado. E os motivos estão bem resumidos na
> história da fazer-cracia que traduzi.
>
>
>> Mas não veja meus questionamentos como uma provocação, realmente estou
>> tentando entender o que realmente quer dizer com seu conceito de
>> fazer-cracia e até que ponto acredita que isso possa ser seguido na
>> estrutura da OKBR. Na prática, o que isso implicaria na OKBR?
>>
>
>
> A Letícia sabe que o modelo não é sustentável, que ela precisa de apoio,
> tanto na execução quanto na concepção, como ocorreu em outros momentos. E é
> para isso que ela está começando a pensar (e agir) em formas de melhorar a
> estrutura criada, os processos criados ou em formação
>
>
>>
>> Ah sim, você tem algum outro exemplo de fazer-cracia seguido para a
>> estruturação de alguma organização fora o evento Burning Man?
>>
>>
> Não sei direito sobre o Burning Man, exceto o que o Abdo explicou sobre o
> evento e as fotos que vi. Não sei muito sobre ele, apenas que não me agrada
> a ideia, apesar de toda excentricidade dele.
>
> Podemos pensar na Open Knowledge Conference que vi em 2011. Foi lá que vi
> coisas *acontecerem* mesmo com claras limitações de recursos humanos e
> financeiros - cartazes feitos a mão, pessoas trabalhando juntas, workshops
> sobre diversos assuntos interessantes, uma rede global em torno de um
> assunto que gosto se reunindo. Minha sensação era a de ter encontrado uma
> grande afinidade com um grupo que queria ver *coisas acontecerem* com um
> propósito comum que estou envolvido faz tempo.
>
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