[okfn-br] Grupo da faculdade no Whatsapp?

Luiz Augusto lugusto em gmail.com
Quinta Novembro 13 12:45:39 UTC 2014


Deixei passar alguns dias para voltar a me manifestar, para diminuir
calores desnecessários. Primeiro, parece que o autor da mensagem se
esqueceu de ter ele mesmo escrito o trecho abaixo:

> Além disso, não vale a pena misturar a construção colaborativa
> do conhecimento com piadas, besteróis diversos, boatos de rede social,
> assédio sexual e explosões temperamentais. Não rola continuar misturando
> o conhecimento de nossas Universidades, a Política e algumas outras
> coisas com aquilo tudo.

Seu nickname alternativo seria "ninguém", já que em outra mensagem ele usa
esse termo para negar o que ele mesmo escreveu? Se se arrependeu de um
trecho tão parecido com os argumentos de "desvio pequeno burguês" que um
grupo usou décadas atrás para proibir diversas coisas que um outro grupo
enxerga como "pecado", ou se eu estou temporariamente incapacitado de
interpretar textos, então nós já nos entendemos.

Outro autor no tópico faz menção ao PRISM. Confesso que foi uma grande
falha minha colocar um etc depois do que mencionei, ainda mais em uma
mensagem dessa natureza a uma lista de discussão onde ele é um assunto
sensível, e com pessoas que não me conhecem; peço desculpas por essa parte
do mau entendido.

Vou tentar diminuir um pouco e puxar para um debate mais produtivo,
explicando por que ainda assim não me incomodo tanto com os serviços de
vigilância eletrônicos.

Fiz estágio em uma estatal paulista da área ambiental e, a partir dela,
identifiquei um tema que me soou realmente interessante para uma
monografia, já que nele posso usar uma pesquisa de cunho científico para
defender uma causa em que acredito (transparência ambiental) e, além disso,
conciliar rotinas de trabalho técnico da área que estagiei ao tema. Com a
equipe com quem trabalhei não tive problema algum, conseguimos conciliar as
necessidades da área com essa minha paixão pelo tema, além de termos
debatido pontos realmente interessantes que aproveitei para refletir e
trabalhar no texto ainda em construção.

Falo ainda porque essa história começou em 2011. Agora vem a parte
interessante.

Pela própria natureza da pesquisa e da área em que estagiei, o serviço que
fiz envolveu, de uma forma ou de outra, dar umas esbarradas em coisas
feitas por outras áreas dessa estatal. O que causou um disse-que-me-disse
sinceramente irritante. Em pelo menos três vezes eu tive a oportunidade de
ver pessoas me sondando sem se preocupar em ter alguma discrição. Na altura
não dei muita atenção ao tema, apenas fiquei rindo internamente sobre tanto
fuzuê envolvendo dados e publicações que já são públicas, pensando com meus
botões sobre a mentalidade do funcionalismo público com a questão da
transparência governamental.

A monografia foi adiada e está atrasada por motivos diversos mas, olha que
interessante. Agora em 2013 nós estamos vendo coisas sobre a gestão de
recursos hídricos que beiram entre motivos para se pedir impeachment do
governador (uso eleitoral do não racionamento) e coisas que vemos escritas
de forma assim explícita apenas em obras de ficção (leak de áudio onde
funcionários de alto-escalão de uma empresa de capital misto, em cargo
comissionado/político, sugerindo evacuação da cidade em caso do zeramento
dos estoques de água).

Será que o fuzuê todo que a minha pesquisa monográfica, meramente teórica,
causou em 2011 já teria como pano de fundo o que estamos vendo agora em
2013 (evidências de má gestão dos recursos naturais por parte de estatais e
empresas de capital misto que deveriam protegê-los)? Se essa pesquisa
tivesse sido concluída, até que ponto o fuzuê teria ido? Rescisão ou não
renovação do contrato de estágio não me afetariam (meu contrato, já
renovado antes do pico do fuzuê, teria acabado semanas antes da defesa da
monografia). Dá para usar a imaginação de forma bem bacana por aqui,
incluindo um PRISM da vida "real"...

Enfim, minha colaboração à parte saudável da discussão desse tópico é: por
mais que o facebook armazene diversas informações minhas (do meu
geoposicionamento quando posto algo ao meu catálogo de contatos, passando
pelos cookies que conversam entre si do próprio facebook e do Gmail,
lugares onde estive e pessoas com quem estive), no que isso se torna
diferente dos dados que as pessoas de durante o fuzuê da minha monografia
tiveram de mim? Claro, registrar esses dados não seria automático ("às
10h34min de 31 de fevereiro de 2034 Fulano falou com Ciclano, que respondeu
determinada coisa e saiu andando"), mas para todos efeitos eles tinham do
endereço da minha casa e número da minha conta corrente (para depositar a
"bolsa") até as minhas digitais (para registrar o ponto eletrônico)...

- Adiantaria uma cautela digital se na vida "física", onde algo dentro de
um estado de direito felizmente se limitou a um indigesto
disse-que-me-disse interdepartamental e interinstitucional (até onde
sabemos, ao menos) e com dados tão sensíveis quanto os coletados pelo
facebook (quando não os mesmíssimos dados) estariam disponíveis às mesmas
pessoas que poderiam repreender uma militância?

- É possível e fácil desaparecer tanto com uma monografia, quanto com
postagens em redes sociais. Se interessasse a esse Estado fazer algo com a
pessoa (tal como com os 43 futuros professores que foram assassinados no
México), certamente esse Estado faria algo também com as evidências dessa
pessoa ter discordado desse Estado. Mas, entre uma monografia posta numa
estante de biblioteca e num repositório eletrônico e uma postagem feita
numa rede social, qual seria a que teria sido vista por mais pessoas antes
de sua remoção? E quantas seriam essas pessoas dentro de uma rede social
ampla versus as de uma rede social especializada? Ou seja, quantas pessoas
teriam como saber o que teria realmente acontecido com a pessoa que foi
dado sumiço?

México e Brasil são "Estados de Direito", ao menos na teoria, de forma
idêntica. Os 43 estudantes foram assassinados por políticos ligados ao
narcotráfico. Aqui pelo Brasil, há pessoas que associam o partido político
que ocupa o Poder Executivo paulista, o mesmo do candidato derrotado à
Presidência da República, ao narcotráfico. Pelo sim e pelo não me soa mais
interessante fazer tanto a monografia para meus relativamente poucos pares
acadêmicos lerem, quanto postagens na rede que colabora com o PRISM. Assim,
se algo me acontecer, ao menos mais gente vai ter como saber o que
realmente aconteceu ;-)

Para evitar novos mau entendidos, peço que notem que não falo nem de
pessoas que vivem em ambientes assumidamente sob regimes totalitários, nem
pessoas que vivem em "Estados de Direito" e militam por atividades vistas
como ilegais (tais como os brasileiros que voluntariamente fazem
medicamentos a partir de derivados de maconha para os distribuir
gratuitamente a pessoas que sofrem de graves doenças [1]). Imagino que
essas estejam numa situação um tanto diferente que ou os 43 mexicanos
assassinados, ou o autor paranoico de uma monografia a muito postergada
(por motivos anteriores à grande chance de ter sua imaginação paranoica
aflorada, acho importante lembrar isso hehe)...

[1] -
http://g1.globo.com/fantastico/videos/t/edicoes/v/pessoas-desafiam-a-lei-para-produzir-um-remedio-extraido-da-maconha/3753627/
 Open Knowledge: É uma irresponsabilidade tremenda chamar o Stálin para a
conversa.

Até quando qualquer pessoa pode dizer o que quiser sem ter um mínimo de
coerência com o assunto que está sendo tratado?


On 08-11-2014 18:55, Thiago Zoroastro wrote:

Ninguém, apenas ninguém disse que não se deve usar o Facebook.

Quem mencionou stalinismo foi você. Alguém aqui lê stalinismo? Eu não,
porque você está mencionando-o?


On 08-11-2014 13:06, Luiz Augusto wrote:

Deixando as questões de design, licenças de software e o que quem tem
acesso aos dados do servidor faz com eles (algoritmos para vender produtos
etc), eu realmente não entendo qual o problema de todas pessoas de
diferentes esferas da sociabilidade de um indivíduo estarem lá, juntas.

Eu particularmente fico fascinado vendo pessoas que conheci em diversos
momentos da minha vida interagindo em um mesmo assunto.

Me seria melhor se eu estivesse em um sistema federado (mas que sincroniza
dados entre as partes) e baseado em software livre, sem dúvida, mas o
fechado é o mais consolidado e com maior base de usuários, então uso ele.

É preciso tomar cuidado para não transpor heranças do stalinismo para os
nossos dias, ou seja, odiar uma plataforma apenas por ela deter certo tipo
de monopólio. É basicamente esse o tipo de raciocínio que senti na mensagem
inicial. Às vezes pode até ter sido inconsciente, mas não senti os defeitos
reais terem assim tanta importância, apenas temperos ao outro defeito (da
grande empresa por trás do serviço).
Em 08/11/2014 12:51, "Yasodara Cordova" <yasodara.cordova em gmail.com>
escreveu:

> Não, eu entendi. Vc realmente acha que alguém pensa assim? Voce está
> tentando me dizer que a gente deveria assumir que usuários pensam assim e
> por isso usam facebook?
>
> Cara nunca ouvi nada mais errado e arrogante. Por isso te falei pra ler
> mais.
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