[okfn-br] Retirada da fazer-cracia e proposta sobre a meritocracia

Everton Zanella Alvarenga tom em okfn.org.br
Sexta Agosto 7 04:52:38 UTC 2015


Olá professor Jorge,

tudo bem? Achei útil entender o contexto em que o artigo foi escrito, mas
ele foge à proposta da discussão, que é termos a meritocracia como um valor
da Open Knowledge Brasil. Também para fins históricos, na minha primeira
apresentação sobre a Open Knowledge
<http://pt.slideshare.net/everton137/open-knowledge-foundation-brasil> no
Brasil, eu mencionava a meritocracia, algo que gosto desde épocas de
estudante, mesmo sabendo o quão injusto alguns sistemas que tentam
reconhecer algum mérito podem ser (e. g., focar dar bolsas de iniciação
científica somente na média ponderada).

Gostaria de sugerir que focássemos nas ideias contidas no artigo e não
desqualificássemos tudo o que foi dito devido ao seu contexto histórico ou
começando com um ataque *ad hominem* ao professor Moyses Nussenzveig. Pelo
menos a coleção de física básica dele e suas publicações científicas valem
mais do que muita gente sequer sonhará em publicar em anos de carreira. Ele
mereceu o salário pago por nossos impostos, na minha opinião.

Vou dizer, agora, apenas uma coisa que gostei.



*Avaliação de professores*
Eu acho super importante existirem mecanismos externos para avaliar os
professores e os alunos. Não sei que prova é essa GED, mas não importa
aqui. Qualquer um aqui que tenha frequentado algumas universidades
públicas, até mesmo algumas consideradas as melhores, sabe que existem,
sim, docentes e alunos relapsos.

Na minha graduação inteira vi os mais diversos tipos de docentes: 1. os não
publicavam, mas eram professores que alegravam os estudantes, muitos sendo
(auto-)enganados que algo aprendiam, 2. os que publicavam muito, mas não
necessariamente eram bons professores, 3. os que eram péssimos
pesquisadores com um nível sofrível de publicações, revistas onde publicam
idem e também nem sabem bem o que falam durante as aulas 4. os que vivem
fazendo só política para sobreviver, 5. os que tem uma maior dedicação a
atividades de extensão, 6 os que ficam cuidando praticamente o tempo todo
de tarefas administrativas, 7 os que se preocupam bastante educação, pelo
menos esforçando para preparar suas aula... e vários outros perfis dentro
de uma universidade que alguns conhecem melhor do que eu.

Vendo esse quadro bastante díspar de perfis, perguntas:

1. Todos docentes merecem os mesmo reconhecimento diante de suas atuações
profissionais?
2. Se concordarmos que alguns docentes produzem mais, alinhados com a
missão da universidade onde está, e acho que ninguém vai discordar que isso
ocorre, de que forma vamos dar esse reconhecimento? Financeiramente,
menções honrosas, projetos? O que?
3. A tal estabilidade de um cargo público até mesmo dos parasitas
universitários e alguns até corruptos, como resolvê-la?

Nós vimos recentemente que a maior universidade do país, a USP, divulgou os
salários dos seus docentes. Eu fiquei curioso e fui ver alguns nomes que
conheço, principalmente na área que estudei. Vi até docente que cometeu
plágio, a reitoria passou a mão na cabeça, e hoje ganha mais de R$ 20.000
por mês. Ou ex-diretor que pegou bode espiatório para não levar a fama. As
história não param.

E as diferenças exorbitantes dos salários, se devem a que? Ao mérito? Os
critérios são todos justos? Eu mesmo fiquei impressionado com a diferença
de salários entre alguns nomes que conheço.

Independentemente da sua resposta, certo estou que quando virmos um docente
relapso com um salário como os que vimos, não vamos achar justo, ainda mais
com essa estabilidade do funcionalismo público.

E os docentes que se dedicam para atividades de cultura, ensino e extensão,
isso é valorizado? Nós sabemos que não, a produtividade acadêmica é o que
conta - claro que tem que contar, pois alguém que não consegue publicar
vivendo disso, algo estranho tem aí... E estou ciente do dilema 'publique
ou sofra', o que pressiona também ocorrerem coisas como qualidades ruins de
publicação ou até mesmo plágio, como vimos numa época não muito distante.

Enfim, há outros pontos discutíveis no artigo. Podemos não concordar com
tudo, mas gostaria de deixar esses questionamentos antes de voltar
novamente porque acho que alguma meritocracia deve existir. Podemos até
definir o que queremos dizer com isso, mas no ponto que levantei agora acho
que deixo um pouco mais claro o que quero dizer. Algumas pessoas, em
condições semelhantes, tem algum mérito para usufruírem de algumas
recompensas.

Everton



Em 8 de julho de 2015 12:12, Jorge Machado <machado em usp.br> escreveu:

> Esse artigo (do Moyses) é muito conservador e visa confundir o leitor.
> Vamos ao contexto. Antes a UFRJ (onde ele dá aula) estava sob intervenção
> federal. O reitor José Vilhena - terceiro colocado na votação da
> universidade - havia sido indicado por decreto pelo FHC, em total
> desrespeito à vontade da comunidade. Isso gerou ondas protestos que se
> alastraram pelos campi da UFRJ e duraram todo mandato e geraram anos de
> tensão.
>
> O discurso desse professor é o de uma raposa velha que tenta confundir as
> coisas. Veja o ranço dele quando se refere às organizações de trabalhadores
> como "hostes [de hostis, inimigos] sindicais". E "hoste" também é o serviço
> militar que os vassalos deviam aos nobres no período medieval. É isso que
> pensa a elite desse país pós-colonial quando os "vassalos" tentam
> participar de processos decisórios...
>
> Esse modelo não é bom para a OKBR. Talvez a gente tem que voltar as raízes
> que levaram à criação da OKBR.
>
> Abs
> Jorge
>
> PS: E para falar de reitores, se fosse pelo mérito a USP poderia ter tido
> um Aziz Ab'Saber, Mário Schemberg, Antonio Cândido, Florestan Fernandes,
> apenas para citar alguns... Por trás da meritocracia, temos uma
> universidade pessimamente gerida, sem transparência (ou "opaca" como dizem
> alguns), com *accountability* quase nulo...
>
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