[okfn-br] Moção de repúdio ao ataque do Sr. Jeffrey Beall ao SciELO?

Andres MRM andres em inventati.org
Segunda Agosto 3 15:39:58 UTC 2015


> Pergunta ao grupo: Por que a comunidade se ofendeu tanto com a comparação?

Heloisa, quando tiver um tempo, dê uma lida no que o cara escreveu.
Ele é quem foi preconceituoso usando o termo favela de forma absolutamente
depreciativa. E a resposta da SciELO foi "na lata", não abrindo brecha para
dizerem que ela é quem foi preconceituosa:

	"Ao contrário do asco classista que favelas provocam no senhor Beall,
	lembramos que favelas são onde boa parte da população brasileira, usuária
	do SUS e financiadora em última instância da própria ciência brasileira,
	reside. A discriminação e preconceito contra esses cidadãos brasileiros é
	inadmissível. Se as únicas alternativas para a publicação científica são
	habitar o condomínio fechado do 1% da população mundial que concentra a
	riqueza e explora os demais 99%, ou estar junto ao povo numa favela, viva
	a favela."

No mais, acho que o Peter descreveu muito bem o contexto, esclarecendo quais
os interesses por trás desse "indivíduo".

Para quem não quiser dar views para o site do sr. Beall, copio o texto dele
abaixo:


"Scholarly open-access publishing has little value when it’s effectively hidden
and almost no one reads the published research. It’s possible for a scholarly
article to be open-access but largely hidden from the world. Here’s how.

Commercial publisher platforms effectively help expose and promote published
research. Publishers maintain close connections with libraries and very
effectively distribute their content— both subscription journals and
open-access journals — to actual library users, including faculty, students,
and postdocs. Commercial publishers work with databases to ensure their
published content is indexed. They add value to published articles by making
it easy for citation management metadata to be easily exportable. The make
available alerting services so researchers know when a new article relevant to
their research appears.

Thus, commercial publisher platforms are nice neighborhoods for scholarly
publications. On the other hand, some open-access platforms are more like
publication favelas.

Meta-publishers such as SciELO and Redalyc aggregate scholarly content but do
a poor job of distributing it or increasing its visibility, despite the fact
that both services are open-access. Many North American scholars have never
even heard of these meta-publishers or the journals they aggregate. Their
content is largely hidden, the neighborhood remote and unfamiliar.

The Brazilian government is aware of this, and last year it invited
representatives from six of the world’s top scholarly publishers to give
presentations and bid on taking over the management of some Brazilian
open-access journals.

The government knows that commercial publishers would do a much better job of
exposing Brazilian research, and it wanted to take advantage of this, for the
benefit of Brazilians. The effort was halted, however, when excluding
Brazilian companies from the bidding process was determined to be illegal, a
major setback for the better promotion and exposure of Brazilian science.

Thomson Reuters is making a new product available called the SciELO Citation
Index. It may give greater exposure to content aggregated in SciELO, but how
many libraries will license the product?

Conclusion

So, what’s the best neighborhood for one’s published work? There are thousands
of unaffiliated, unknown open-access journals published all over the world
that are very effectively hiding the research they publish, despite being OA.
Their content is not indexed (except perhaps in Google Scholar, a database
poisoned by fringe science), and it’s just sitting there with little value
added to it. Much of it will disappear over time. Because copyright of the
articles is retained by authors, there may be little future interest in
maintaining, publishing, and promoting the content."



[2015-08-03 11:19] Felipe M Pait:

> Concordo que a comparação com a favela não é ofensiva. Nem o caráter do
> indivíduo nem a qualidade do seu trabalho ficam prejudicadas por se tratar de
> um morador de favela.
> 
> Talvez a comparação seja mesmo adequada, pensando em publicações essencialmente
> brasileiras. Por um lado algumas são editadas por empresas internacionais, o
> que confere não entendo bem porque um certo prestígio, a custo alto para o
> contribuinte. São os condomínios fechados. Outras ficam abertas a todos e
> recebem menos apoio oficial, como uma favela nem polícia nem arruamento. Nem
> por isso os artigos lá publicados são necessariamente mais fracos, embora
> talvez a visita aos condomínios fechados da academia seja mais protegida pelos
> órgãos oficiais.
> 
> (Na minha experiência as publicações mais relevantes não são nem completamente
> abertas, nem comerciais: são as publicações das organizações científicas
> profissionais, que têm custos reduzidos e passam por crivos mais criteriosos do
> que as demais. Na minha área o exemplo principal são as revistas do IEEE.)
> 
> Talvez o pensamento do autor tenha sido preconceituoso, revelando
> desconsideração pela favela. Mas não é ofensivo para o cientista que publica no
> que ele chama de favela das publicações. A não ser que a gente aceite a
> hipótese de que o que vem da favela é pior, o que eu não aceito.
> 
> 
> 
>     On 3 Aug 2015, at 08:50 , Heloisa Pait <heloisa em okfn.org.br> wrote:
> 
>     Olá!
> 
>     Estou sem tempo para me inteirar melhor sobre o assunto, mas lendo a
>     resposta, digo que:
>     1. visibilidade é fundamental. Como conseguir isso? A questão é legítima.
>     2. se alguém quer comparar uma coisa qualquer com favela, compare, oras.
> 
>     Não vejo motivos pra nos sentirmos ofendidos. Ofender-se com isso seria na
>     verdade confessar que acreditamos estar "acima" das favelas. Ora, queremos
>     fazer isso? Eu não. Nossas cidades têm favelas, muitos de nossos
>     concidadãos moram em favelas, e muitas coisas na nossa sociedade tem, sim,
>     aspectos favelares, ou favelísticos, ou seja lá qual é o adjetivo de
>     favelas. São parte da sociedade brasileira, inspiram obras de arte, músicas
>     lindas, filmes, romances, novelas, por que não inspirariam também as
>     ciências?
> 
>     Ou as ciências brasileiras não tem a ver com a sociedade local, apenas com
>     Humboldt ou MIT?
> 
>     Se a afirmação dele for verdadeira, o caso é apenas de pensar em que
>     sentido essa favela pode ser aprimorada para que cumpra melhor sua função.
>     Se for falsa, é falsa e pronto.
> 
>     Pergunta ao grupo: Por que a comunidade se ofendeu tanto com a comparação?
>     Alguém tem alguma idéia? Sem ironia, eu realmente estou investigando isso,
>     a rejeição da universidade brasileira aos saber nacional, que é rico e
>     pulsante.
> 
>     Abraços,
>     Heloisa
> 
>     2015-08-02 19:42 GMT-03:00 Miguel Said Vieira <msv em dev.full.nom.br>:
> 
>         Olá pessoal,
> 
>         o Beall aponta uma questão séria e relevante com seu trabalho; o acesso
>         aberto dourado abre caminho pra problemas graves de mercantilização da
>         publicação acadêmica, e um dos primeiros esforços mais sistemáticos em
>         evidenciar esses problemas foi o da sua famosa e polêmica lista de
>         "periódicos predatórios". Mas volta e meia, Beall sustenta posições
>         muito questionáveis.
> 
>         Esse post em questão é exemplo disso. O argumento do texto não é nada
>         científico: ele faz diversas afirmações retóricas (sobre a qualidade do
>         trabalho de SciELO e Redalyc, sobre as intenções do governo ao cogitar
>         contratar grandes editoras), sem nenhuma fonte ou evidência razoável.
> 
>         Além disso, achei a comparação com favelas / "bairros agradáveis"
>         preconceituosa, e com uma conotação bem colonialista; se nossos
>         periódicos são carentes de recursos (como "favelas"), não é por uma
>         mera escolha, mas por um cenário complexo que envolve (entre outros
>         fatores) a pobreza de nossos países e o caráter altamente concentrado
>         do mercado de publicações científicas. A comparação também é reveladora
>         da posição dele: ele omite que no "bairro agradável" o que temos são
>         condomínios fechados -- publicações de acesso caríssimo, e que
>         remuneram o oligopólio de grandes editoras a taxas de lucro
>         exorbitantes. A "favela" de publicações pode ter seus problemas, mas em
>         vários aspectos o condomínio fechado é pior para todos (tirando os
>         donos das grandes editoras)...
> 
>         Minha impressão, aliás, é de que ele é a priori contrário a acesso
>         aberto (seja predatório ou não). Este artigo dele, por exemplo, passa
>         bem essa ideia:
> 
>         http://www.triple-c.at/index.php/tripleC/article/view/525
> 
>         Abraços,
>         Miguel
> 
> 
> 
>         On 08/02/2015 02:13 PM, Everton Zanella Alvarenga wrote:
> 
>             Caros,
> 
>             entraram em contato conosco sobre o seguinte episódio envolvendo a
>             SciELO, descrito no blog da própria:
> 
>             http://blog.scielo.org/blog/2015/08/02/
>             mocao-de-repudio-ao-ataque-classista-do-sr-jeffrey-beall-ao-scielo/
>             #.Vb4w1nnEPS0.twitter
> 
>             Alguém aqui tem acompanhado o caso? Devemos nos manifestar? Não
>             conheço esse sr., então gostariade saber se ele tem alguma
>             relevância para nosso trabalho ampliar o acesso ao conhecimento
>             científico ao ponto de dedicar algum esforço de nossa parte.
> 
>             Tom
>             Open Knowledge Brasil
> 
> 
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>         _______________________________________________
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