[okfn-br] Retirada da fazer-cracia e proposta sobre a meritocracia

Edgar Zanella Alvarenga e em vaz.io
Terça Agosto 11 19:38:16 UTC 2015


Não entendi muito bem até agora o objetivo de toda essa discussão,
do que concretamente estão tentando discutir pois pra mim não ficou 
claro em qual contexto a discussão sobre meritocracia está acontecendo 
(e lendo os emails parece que o contexto muda de pessoa pra pessoa). Mas 
se querem realmente se aprofundar no assunto e quem sabe tentar aplicar 
em algum dos contextos que estiverem pensando, sugiro:

http://plato.stanford.edu/entries/equal-opportunity

E aviso que a leitura leva tempo mesmo com o artigo sendo superficial, 
discutindo brevemente diferentes tópicos sobre o assunto. Quem quiser 
pensar mais no tema terá que seguir as referências.

On 11/08/2015 20:46, Andres MRM wrote:
> Concordo bastante com o texto do Jorge. E também achei muito estranho 
> essa
> "Palestra da OKBR: Meritocracia, Dados Abertos e Universidade Pública".
> De certo modo até ofensivo/provocativo, depois do que já foi discutido 
> sobre o
> fato que iniciou essa thread.
> 
> 
>> A própria definição de meritocracia não é tida como consenso, então 
>> acredito
>> ser um exercício válido nós tentarmos definir o que estamos querendo 
>> dizer.
>> Sem antes mesmo definirmos o termo, já dá para ver um viés sabe-se lá
>> baseado em que.
> 
> Que tal na origem da palavra? Concordo plenamente que meritocracia tem 
> muitas
> definições, mas a primeira delas não era nada positiva e, na minha 
> opinião,
> continua não sendo. Para quem não sabe (um amigo meu me contou esses 
> dias, e o
> artigo da Wiki que o Tom passou confirma) o termo meritocracia foi 
> usando
> primeiramente em um romance para descrever uma sociedade distópica "a 
> la 1984"
> [0]. Eu não sei qual é a definição de meritocracia que você está 
> pensando,
> Tom, mas até hoje não vi nenhuma que denote algo que apoio.
> 
> [0] https://en.wikipedia.org/wiki/The_Rise_of_the_Meritocracy
> 
> 
>> Até mesmo essa questão da horitontalidade é perigosa da forma como 
>> está
>> sendo posta. Vejam o artigo simples a falácia da horizontalidade. 
>> Temos
>> também o célebre artigo da ativista feminista Joe Freeman, a tirania 
>> de
>> organizações sem estrutura, que eu recomendo fortemente para todos
>> interessados no tema
> 
> Quando você postou o texto da Joreen aqui da outra vez, eu fiz vários
> comentários relacionados que acho que se aplicam novamente.
> Se ela soubesse que você está usando o artigo dela como referência para 
> banir
> a horizontalidade acho que ela ia querer te bater. A saída que ela 
> defende é
> BEM diferente disso, é justamente no sentido que corrigir as falhas que
> costumam surgir com a horizontalidade, não aboli-la.
> 
> 
>> (num caso recente aqui mesmo, vimos a descompostura intelectual diante 
>> do
>> tema, como foi bem apontado por uma outra conselheira consultiva e 
>> acredito
>> que possa ter servido de exemplo)
> 
> Do que você está falando?
> 
> 
> 
> Ps.: E ultimamente, "filosofando" sobre o assunto, tenho a impressão 
> que não
> existe "mérito" no conceito mais amplo. Imaginei que a ideia não fosse 
> nova, e
> o artigo da Wiki realmente cita algo bem na linha do que pensei:
> 
> 	"Other concerns for the validity of a merit-based system have arisen 
> from
> 	studies in psychology, sociology, and neuroscience.[citation needed] 
> Given
> 	the proposition that a person's life prospects should not be decided 
> by
> 	factors outside of one's control or, for which a person cannot claim
> 	personal credit (i.e., social status, inherited wealth, race, and 
> other
> 	accidents of birth) a meritocracy proposes a system where people are
> 	rewarded based on their efforts, and if everyone can start on equal
> 	footing with the same opportunity to advance, then the results are 
> just.
> 	However, some studies have shown that even our motivation, work ethic, 
> and
> 	conscientious drive is, in fact, outside of our control and can be
> 	affected by such arbitrary factors as birth order. Children who are 
> first
> 	in birth order tend to aim at goals that reference their own past 
> level of
> 	mastery, while secondborns tend to aim at goals based on 
> other-referenced
> 	expectations and competence standards.[48] Therefore, a system which
> 	rewards effort in this way is not completely just, because effort and 
> hard
> 	work is not something we can claim complete credit for."
> 
> 
> 
> [2015-08-11 14:45] Everton Zanella Alvarenga:
> 
>> P. S. esqueci de passar um artigo que explora um pouco mais o tema
>> 
>> http://www.wisegeek.com/what-is-a-meritocracy.htm
>> 
>> E de dizer que continua de pé meu convite. Entendo se não quiserem 
>> comparecer.
>> Há mais de 10 anos venho falando que nossa academia tem muito receio 
>> do debate,
>> o que pode levar à certa apatia de nossos estudantes.
>> 
>> Estou sendo levado a crer que a principal causa disso é termos 
>> começado a
>> instruir formalmente nossa população a ler só na década de 60, na 
>> mesma década
>> em que instaurou-se uma ditadura militar e a TV passa a ser o maior 
>> meio de
>> comunicaçao, bastante usado pelos donos do poder para manter-se no 
>> poder e uma
>> população sedada.
>> 
>> Prosseguimos.
>> 
>> Em 11 de agosto de 2015 14:40, Everton Zanella Alvarenga 
>> <tom em okfn.org.br>
>> escreveu:
>> 
>>     Caro Jorge,
>> 
>>     não consigo responder todos pontos por você levantado tão logo, 
>> mas
>>     gostaria de adiantar que, na minha opinão, está havendo uma 
>> confisão de
>>     conceitos. A própria definição de meritocracia não é tida como 
>> consenso,
>>     então acredito ser um exercício válido nós tentarmos definir o que 
>> estamos
>>     querendo dizer.
>> 
>>     Sem antes mesmo definirmos o termo, já dá para ver um viés sabe-se 
>>>>     baseado em que. Levo a crer que é definido a consufões feitas com 
>> o termo e
>>     condições em que ele deve ser aplicado. Até mesmo essa questão da
>>     horitontalidade é perigosa da forma como está sendo posta. Vejam o 
>> artigo
>>     simples a falácia da horizontalidade. Temos também o célebre 
>> artigo da
>>     ativista feminista Joe Freeman, a tirania de organizações sem 
>> estrutura,
>>     que eu recomendo fortemente para todos interessados no tema (num 
>> caso
>>     recente aqui mesmo, vimos a descompostura intelectual diante do 
>> tema, como
>>     foi bem apontado por uma outra conselheira consultiva e acredito 
>> que possa
>>     ter servido de exemplo).
>> 
>>     Por fim, para tentar persuadir de minha boa-fé para chegarmos a um
>>     consenso, vou sugerir no dia da minha palestra traduzirmos o 
>> termos
>>     meriticracy da Wikipédia anglófona para a lusófona. Incluindo, 
>> inclusive,
>>     essas referências para entedermos o assunto de modo mais profundo, 
>> como
>>     sugerido. Recomendo fortemente a leitura e reflexão diante das 
>> várias
>>     condições iniciais e de contorno.
>> 
>>     Everton
>> 
>>     Em 11 de agosto de 2015 10:44, Jorge Machado <machado em usp.br> 
>> escreveu:
>> 
>>         Caro Tom (e companheir em s da OKF),
>> 
>>         A meritocracia tem como característica uma estrutura vertical 
>> de
>>         gestão, mecanismo de decisão top-down, a existência de 
>> hierarquias,
>>         aversão à promoção da igualdade como critério, ausência de 
>> validação
>>         das decisões pelas camadas de "menos mérito", o que a torna 
>> quase imune
>>         a mudanças que venham "de baixo". Sua legitimidade não se dá 
>> através de
>>         accountabilitty (prestação de contas), transparência, ou 
>> mecanismos de
>>         participação que promovam interesses mais amplos, se não que 
>> apenas
>>         pelo suposto "mérito" dos que detêm o poder. Como a 
>> universidade tem a
>>         meritocracia como base de estrutura de poder e do processo de 
>> tomada de
>>         decisão, em parte, os problemas que você se refere na mensagem 
>> estão
>>         associados à meritocracia.
>> 
>>         Outra parte dos problemas que você lista em sua mensagem se 
>> referem a
>>         questão da estabilidade do funcionalismo público. Em poucas 
>> palavras:
>>         há o modelo liberal, norte americano, com enorme disparidade 
>> de
>>         salários e contratos de curta duração; e há outro modelo,
>>         social-democrata/europeu, onde a diferença salarial é bem 
>> menor e o
>>         docente possui vínculo estável com o serviço público. De fato, 
>> se o
>>         modelo das universidades norte-americanas for a opção, então 
>> há que
>>         aceitar a precarização do trabalho, a punição às mulheres que
>>         sacrificam a carreira para serem mães (ou os pais que cuidam 
>> dos
>>         filhos, que em alguns países da Europa, podem tirar 
>> licença-paternidade
>>         de até 2 anos). E esqueça qualquer política de cotas, pois 
>> isso vai
>>         contra o princípio do mérito - como se a história colonial não
>>         trouxesse consequencia às gerações seguintes! Na meritocracia, 
>> quem
>>         está em situação desprivilegiada, o está por sua própria 
>> culpa.
>> 
>>         Na USP, a meritocracia criou uma série de gratificações e 
>> privilégios
>>         para algumas castas encasteladas no poder (por "mérito") com
>>         supersalários. Na Unicamp, criaram até um segundo registro 
>> funcional
>>         para que os meritosos dirigentes pudessem ter dois salários e
>>         escapassem do teto constitucional. Na USP, como solução aos 
>> problemas
>>         financeiros que os meritosos dirigentes causaram, os próprios 
>> decidiram
>>         desativar as creches, desmontar o Hospital Universitário e 
>> trocar
>>         funcionários por terceirizados mal pagos por empresas 
>> suspeitas (como a
>>         Pluri Serviços e O.O. Lima, flagradas em diversas esquemas 
>> fraudes em
>>         licitações) com custosos contratos.
>> 
>>         Se pesquisar mais profundamente sobre o tema, verá que a 
>> meritocracia é
>>         usada desde o século XVIII para defender privilégios e 
>> combater
>>         políticas igualitárias. Esse discurso é perigoso. Assim, não 
>> me sinto
>>         representado por uma organização que defende a "meritocracia" 
>> (desculpe
>>         Tom, me corrija se você representa a si mesmo ou à OKF no 
>> evento
>>         organizado pelos alunos de Sistemas de informação da USP em 
>> que falará
>>         sobre suas ideias de meritocracia).
>> 
>>         Na verdade, não entendi o que levou a entrada do tema no 
>> debate (seria
>>         temor às assembleias gerais?), nem quais seriam as 
>> consequências
>>         objetivas dessa "filosofia" de governança. O que percebi foi 
>> uma
>>         mudança na forma de comunicação por parte da direção 
>> executiva, que -
>>         ao invés de uma postura discreta - passa a se manifestar sobre 
>> muitos
>>         assuntos em primeira pessoa.
>> 
>>         A meritocracia enquanto um princípio de governança é nociva à 
>> OKBR e
>>         inevitavelmente aprofundará á desunião, pois muitos 
>> participantes
>>         defendem sistemas mais horizontais e colaborativos de gestão e 
>> de
>>         tomada de decisão - o que faz sentido com a militância dos 
>> movimentos
>>         "open".  Talvez o foco foi desviado do verdadeiro problema do 
>> método
>>         associado à falta de experiência em gerir uma organização com 
>> tais
>>         características.
>> 
>>         Gostaria de dizer que respeito qualquer opinião contrária a 
>> minha. Vejo
>>         essa questão como eminentemente política e ideológica, sem 
>> levar para o
>>         lado pessoal.
>> 
>>         Abraços,
>> 
>>         Jorge
>> 
>> 
>> 
>> 
>> 
> _______________________________________________
> okfn-br mailing list
> okfn-br em lists.okfn.org
> https://lists.okfn.org/mailman/listinfo/okfn-br
> Unsubscribe: https://lists.okfn.org/mailman/options/okfn-br



Mais detalhes sobre a lista de discussão okfn-br