[okfn-br] Retirada da fazer-cracia e proposta sobre a meritocracia

Andres MRM andres em inventati.org
Terça Agosto 11 18:46:17 UTC 2015


Concordo bastante com o texto do Jorge. E também achei muito estranho essa
"Palestra da OKBR: Meritocracia, Dados Abertos e Universidade Pública".
De certo modo até ofensivo/provocativo, depois do que já foi discutido sobre o
fato que iniciou essa thread.


> A própria definição de meritocracia não é tida como consenso, então acredito
> ser um exercício válido nós tentarmos definir o que estamos querendo dizer.
> Sem antes mesmo definirmos o termo, já dá para ver um viés sabe-se lá
> baseado em que.

Que tal na origem da palavra? Concordo plenamente que meritocracia tem muitas
definições, mas a primeira delas não era nada positiva e, na minha opinião,
continua não sendo. Para quem não sabe (um amigo meu me contou esses dias, e o
artigo da Wiki que o Tom passou confirma) o termo meritocracia foi usando
primeiramente em um romance para descrever uma sociedade distópica "a la 1984"
[0]. Eu não sei qual é a definição de meritocracia que você está pensando,
Tom, mas até hoje não vi nenhuma que denote algo que apoio.

[0] https://en.wikipedia.org/wiki/The_Rise_of_the_Meritocracy


> Até mesmo essa questão da horitontalidade é perigosa da forma como está
> sendo posta. Vejam o artigo simples a falácia da horizontalidade. Temos
> também o célebre artigo da ativista feminista Joe Freeman, a tirania de
> organizações sem estrutura, que eu recomendo fortemente para todos
> interessados no tema

Quando você postou o texto da Joreen aqui da outra vez, eu fiz vários
comentários relacionados que acho que se aplicam novamente.
Se ela soubesse que você está usando o artigo dela como referência para banir
a horizontalidade acho que ela ia querer te bater. A saída que ela defende é
BEM diferente disso, é justamente no sentido que corrigir as falhas que
costumam surgir com a horizontalidade, não aboli-la.


> (num caso recente aqui mesmo, vimos a descompostura intelectual diante do
> tema, como foi bem apontado por uma outra conselheira consultiva e acredito
> que possa ter servido de exemplo)

Do que você está falando?



Ps.: E ultimamente, "filosofando" sobre o assunto, tenho a impressão que não
existe "mérito" no conceito mais amplo. Imaginei que a ideia não fosse nova, e
o artigo da Wiki realmente cita algo bem na linha do que pensei:

	"Other concerns for the validity of a merit-based system have arisen from
	studies in psychology, sociology, and neuroscience.[citation needed] Given
	the proposition that a person's life prospects should not be decided by
	factors outside of one's control or, for which a person cannot claim
	personal credit (i.e., social status, inherited wealth, race, and other
	accidents of birth) a meritocracy proposes a system where people are
	rewarded based on their efforts, and if everyone can start on equal
	footing with the same opportunity to advance, then the results are just.
	However, some studies have shown that even our motivation, work ethic, and
	conscientious drive is, in fact, outside of our control and can be
	affected by such arbitrary factors as birth order. Children who are first
	in birth order tend to aim at goals that reference their own past level of
	mastery, while secondborns tend to aim at goals based on other-referenced
	expectations and competence standards.[48] Therefore, a system which
	rewards effort in this way is not completely just, because effort and hard
	work is not something we can claim complete credit for."



[2015-08-11 14:45] Everton Zanella Alvarenga:

> P. S. esqueci de passar um artigo que explora um pouco mais o tema
> 
> http://www.wisegeek.com/what-is-a-meritocracy.htm
> 
> E de dizer que continua de pé meu convite. Entendo se não quiserem comparecer.
> Há mais de 10 anos venho falando que nossa academia tem muito receio do debate,
> o que pode levar à certa apatia de nossos estudantes.
> 
> Estou sendo levado a crer que a principal causa disso é termos começado a
> instruir formalmente nossa população a ler só na década de 60, na mesma década
> em que instaurou-se uma ditadura militar e a TV passa a ser o maior meio de
> comunicaçao, bastante usado pelos donos do poder para manter-se no poder e uma
> população sedada.
> 
> Prosseguimos.
> 
> Em 11 de agosto de 2015 14:40, Everton Zanella Alvarenga <tom em okfn.org.br>
> escreveu:
> 
>     Caro Jorge,
> 
>     não consigo responder todos pontos por você levantado tão logo, mas
>     gostaria de adiantar que, na minha opinão, está havendo uma confisão de
>     conceitos. A própria definição de meritocracia não é tida como consenso,
>     então acredito ser um exercício válido nós tentarmos definir o que estamos
>     querendo dizer.
> 
>     Sem antes mesmo definirmos o termo, já dá para ver um viés sabe-se lá
>     baseado em que. Levo a crer que é definido a consufões feitas com o termo e
>     condições em que ele deve ser aplicado. Até mesmo essa questão da
>     horitontalidade é perigosa da forma como está sendo posta. Vejam o artigo
>     simples a falácia da horizontalidade. Temos também o célebre artigo da
>     ativista feminista Joe Freeman, a tirania de organizações sem estrutura,
>     que eu recomendo fortemente para todos interessados no tema (num caso
>     recente aqui mesmo, vimos a descompostura intelectual diante do tema, como
>     foi bem apontado por uma outra conselheira consultiva e acredito que possa
>     ter servido de exemplo).
> 
>     Por fim, para tentar persuadir de minha boa-fé para chegarmos a um
>     consenso, vou sugerir no dia da minha palestra traduzirmos o termos
>     meriticracy da Wikipédia anglófona para a lusófona. Incluindo, inclusive,
>     essas referências para entedermos o assunto de modo mais profundo, como
>     sugerido. Recomendo fortemente a leitura e reflexão diante das várias
>     condições iniciais e de contorno.
> 
>     Everton
> 
>     Em 11 de agosto de 2015 10:44, Jorge Machado <machado em usp.br> escreveu:
> 
>         Caro Tom (e companheir em s da OKF),
> 
>         A meritocracia tem como característica uma estrutura vertical de
>         gestão, mecanismo de decisão top-down, a existência de hierarquias,
>         aversão à promoção da igualdade como critério, ausência de validação
>         das decisões pelas camadas de "menos mérito", o que a torna quase imune
>         a mudanças que venham "de baixo". Sua legitimidade não se dá através de
>         accountabilitty (prestação de contas), transparência, ou mecanismos de
>         participação que promovam interesses mais amplos, se não que apenas
>         pelo suposto "mérito" dos que detêm o poder. Como a universidade tem a
>         meritocracia como base de estrutura de poder e do processo de tomada de
>         decisão, em parte, os problemas que você se refere na mensagem estão
>         associados à meritocracia.
> 
>         Outra parte dos problemas que você lista em sua mensagem se referem a
>         questão da estabilidade do funcionalismo público. Em poucas palavras:
>         há o modelo liberal, norte americano, com enorme disparidade de
>         salários e contratos de curta duração; e há outro modelo,
>         social-democrata/europeu, onde a diferença salarial é bem menor e o
>         docente possui vínculo estável com o serviço público. De fato, se o
>         modelo das universidades norte-americanas for a opção, então há que
>         aceitar a precarização do trabalho, a punição às mulheres que
>         sacrificam a carreira para serem mães (ou os pais que cuidam dos
>         filhos, que em alguns países da Europa, podem tirar licença-paternidade
>         de até 2 anos). E esqueça qualquer política de cotas, pois isso vai
>         contra o princípio do mérito - como se a história colonial não
>         trouxesse consequencia às gerações seguintes! Na meritocracia, quem
>         está em situação desprivilegiada, o está por sua própria culpa.
> 
>         Na USP, a meritocracia criou uma série de gratificações e privilégios
>         para algumas castas encasteladas no poder (por "mérito") com
>         supersalários. Na Unicamp, criaram até um segundo registro funcional
>         para que os meritosos dirigentes pudessem ter dois salários e
>         escapassem do teto constitucional. Na USP, como solução aos problemas
>         financeiros que os meritosos dirigentes causaram, os próprios decidiram
>         desativar as creches, desmontar o Hospital Universitário e trocar
>         funcionários por terceirizados mal pagos por empresas suspeitas (como a
>         Pluri Serviços e O.O. Lima, flagradas em diversas esquemas fraudes em
>         licitações) com custosos contratos.
> 
>         Se pesquisar mais profundamente sobre o tema, verá que a meritocracia é
>         usada desde o século XVIII para defender privilégios e combater
>         políticas igualitárias. Esse discurso é perigoso. Assim, não me sinto
>         representado por uma organização que defende a "meritocracia" (desculpe
>         Tom, me corrija se você representa a si mesmo ou à OKF no evento
>         organizado pelos alunos de Sistemas de informação da USP em que falará
>         sobre suas ideias de meritocracia).
> 
>         Na verdade, não entendi o que levou a entrada do tema no debate (seria
>         temor às assembleias gerais?), nem quais seriam as consequências
>         objetivas dessa "filosofia" de governança. O que percebi foi uma
>         mudança na forma de comunicação por parte da direção executiva, que -
>         ao invés de uma postura discreta - passa a se manifestar sobre muitos
>         assuntos em primeira pessoa.
> 
>         A meritocracia enquanto um princípio de governança é nociva à OKBR e
>         inevitavelmente aprofundará á desunião, pois muitos participantes
>         defendem sistemas mais horizontais e colaborativos de gestão e de
>         tomada de decisão - o que faz sentido com a militância dos movimentos
>         "open".  Talvez o foco foi desviado do verdadeiro problema do método
>         associado à falta de experiência em gerir uma organização com tais
>         características.
> 
>         Gostaria de dizer que respeito qualquer opinião contrária a minha. Vejo
>         essa questão como eminentemente política e ideológica, sem levar para o
>         lado pessoal.
> 
>         Abraços,
> 
>         Jorge
> 
> 
> 
> 
> 



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