[okfn-br] Retirada da fazer-cracia e proposta sobre a meritocracia
Everton Zanella Alvarenga
tom em okfn.org.br
Terça Agosto 11 17:45:45 UTC 2015
P. S. esqueci de passar um artigo que explora um pouco mais o tema
http://www.wisegeek.com/what-is-a-meritocracy.htm
E de dizer que continua de pé meu convite. Entendo se não quiserem
comparecer. Há mais de 10 anos venho falando que nossa academia tem
muito receio
do debate
<https://blogdotom.wordpress.com/2009/05/05/ping-pong-intelectual/>, o que
pode levar à certa apatia de nossos estudantes
<https://blogdotom.wordpress.com/2009/05/05/sera-que-isso-explica-um-pouco-sobre-a-apatia-dos-alunos-brasileiros/>
.
Estou sendo levado a crer que a principal causa disso é termos começado a
instruir formalmente nossa população a ler só na década de 60, na mesma
década em que instaurou-se uma ditadura militar e a TV passa a ser o maior
meio de comunicaçao, bastante usado pelos donos do poder para manter-se no
poder e uma população sedada.
Prosseguimos.
Em 11 de agosto de 2015 14:40, Everton Zanella Alvarenga <tom em okfn.org.br>
escreveu:
> Caro Jorge,
>
> não consigo responder todos pontos por você levantado tão logo, mas
> gostaria de adiantar que, na minha opinão, está havendo uma confisão de
> conceitos. A própria definição de meritocracia não é tida como consenso,
> então acredito ser um exercício válido nós tentarmos definir o que estamos
> querendo dizer.
>
> Sem antes mesmo definirmos o termo, já dá para ver um viés sabe-se lá
> baseado em que. Levo a crer que é definido a consufões feitas com o termo e
> condições em que ele deve ser aplicado. Até mesmo essa questão da
> horitontalidade é perigosa da forma como está sendo posta. Vejam o artigo
> simples a falácia da horizontalidade
> <https://medium.com/@tuliomalaspina/a-fal%C3%A1cia-da-horizontalidade-58e8fe8f4573>.
> Temos também o célebre artigo da ativista feminista Joe Freeman, a
> tirania de organizações sem estrutura
> <https://pt.wikipedia.org/wiki/A_tirania_de_organiza%C3%A7%C3%B5es_sem_estrutura>,
> que eu recomendo fortemente para todos interessados no tema (num caso
> recente aqui mesmo, vimos a descompostura intelectual diante do tema, como
> foi bem apontado por uma outra conselheira consultiva e acredito que possa
> ter servido de exemplo).
>
> Por fim, para tentar persuadir de minha boa-fé para chegarmos a um
> consenso, vou sugerir no dia da minha palestra traduzirmos o termos
> meriticracy <https://en.wikipedia.org/wiki/Meritocracy> da Wikipédia
> anglófona para a lusófona. Incluindo, inclusive, essas referências para
> entedermos o assunto de modo mais profundo, como sugerido. Recomendo
> fortemente a leitura e reflexão diante das várias condições iniciais e de
> contorno.
>
> Everton
>
> Em 11 de agosto de 2015 10:44, Jorge Machado <machado em usp.br> escreveu:
>
>> Caro Tom (e companheir em s da OKF),
>>
>> A meritocracia tem como característica uma estrutura vertical de gestão,
>> mecanismo de decisão top-down, a existência de hierarquias, aversão à
>> promoção da igualdade como critério, ausência de validação das decisões
>> pelas camadas de "menos mérito", o que a torna quase imune a mudanças que
>> venham "de baixo". Sua legitimidade não se dá através de accountabilitty
>> (prestação de contas), transparência, ou mecanismos de participação que
>> promovam interesses mais amplos, se não que apenas pelo suposto "mérito"
>> dos que detêm o poder. Como a universidade tem a meritocracia como base de
>> estrutura de poder e do processo de tomada de decisão, em parte, os
>> problemas que você se refere na mensagem estão associados à meritocracia.
>>
>> Outra parte dos problemas que você lista em sua mensagem se referem a
>> questão da estabilidade do funcionalismo público. Em poucas palavras: há o
>> modelo liberal, norte americano, com enorme disparidade de salários e
>> contratos de curta duração; e há outro modelo, social-democrata/europeu,
>> onde a diferença salarial é bem menor e o docente possui vínculo estável
>> com o serviço público. De fato, se o modelo das universidades
>> norte-americanas for a opção, então há que aceitar a precarização do
>> trabalho, a punição às mulheres que sacrificam a carreira para serem mães
>> (ou os pais que cuidam dos filhos, que em alguns países da Europa, podem
>> tirar licença-paternidade de até 2 anos). E esqueça qualquer política de
>> cotas, pois isso vai contra o princípio do mérito - como se a história
>> colonial não trouxesse consequencia às gerações seguintes! Na meritocracia,
>> quem está em situação desprivilegiada, o está por sua própria culpa.
>>
>> Na USP, a meritocracia criou uma série de gratificações e privilégios
>> para algumas castas encasteladas no poder (por "mérito") com supersalários.
>> Na Unicamp
>> <http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/07/1655882-cupula-da-unicamp-recebe-dois-salarios-e-ultrapassa-teto-de-sp.shtml>,
>> criaram até um segundo registro funcional para que os meritosos dirigentes
>> pudessem ter dois salários e escapassem do teto constitucional. Na USP,
>> como solução aos problemas financeiros que os meritosos dirigentes
>> causaram, os próprios decidiram desativar as creches, desmontar o Hospital
>> Universitário e trocar funcionários por terceirizados mal pagos por
>> empresas suspeitas (como a Pluri Serviços e O.O. Lima, flagradas em
>> diversas esquemas fraudes em licitações) com custosos contratos.
>>
>> Se pesquisar mais profundamente sobre o tema, verá que a meritocracia é
>> usada desde o século XVIII para defender privilégios e combater políticas
>> igualitárias. Esse discurso é perigoso. Assim, não me sinto representado
>> por uma organização que defende a "meritocracia" (desculpe Tom, me corrija
>> se você representa a si mesmo ou à OKF no evento organizado pelos alunos de
>> Sistemas de informação da USP em que falará sobre suas ideias de
>> meritocracia).
>>
>> Na verdade, não entendi o que levou a entrada do tema no debate (seria
>> temor às assembleias gerais?), nem quais seriam as consequências objetivas
>> dessa "filosofia" de governança. O que percebi foi uma mudança na forma de
>> comunicação por parte da direção executiva, que - ao invés de uma postura
>> discreta - passa a se manifestar sobre muitos assuntos em primeira pessoa.
>>
>> A meritocracia enquanto um princípio de governança é nociva à OKBR e
>> inevitavelmente aprofundará á desunião, pois muitos participantes defendem
>> sistemas mais horizontais e colaborativos de gestão e de tomada de decisão
>> - o que faz sentido com a militância dos movimentos "open". Talvez o foco
>> foi desviado do verdadeiro problema do *método* associado à falta de
>> experiência em gerir uma organização com tais características.
>>
>> Gostaria de dizer que respeito qualquer opinião contrária a minha. Vejo
>> essa questão como eminentemente política e ideológica, sem levar para o
>> lado pessoal.
>>
>> Abraços,
>>
>> Jorge
>>
>>
>>
>>
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