[okfn-br] Retirada da fazer-cracia e proposta sobre a meritocracia
Everton Zanella Alvarenga
tom em okfn.org.br
Terça Agosto 11 17:40:55 UTC 2015
Caro Jorge,
não consigo responder todos pontos por você levantado tão logo, mas
gostaria de adiantar que, na minha opinão, está havendo uma confisão de
conceitos. A própria definição de meritocracia não é tida como consenso,
então acredito ser um exercício válido nós tentarmos definir o que estamos
querendo dizer.
Sem antes mesmo definirmos o termo, já dá para ver um viés sabe-se lá
baseado em que. Levo a crer que é definido a consufões feitas com o termo e
condições em que ele deve ser aplicado. Até mesmo essa questão da
horitontalidade é perigosa da forma como está sendo posta. Vejam o artigo
simples a falácia da horizontalidade
<https://medium.com/@tuliomalaspina/a-fal%C3%A1cia-da-horizontalidade-58e8fe8f4573>.
Temos também o célebre artigo da ativista feminista Joe Freeman, a tirania
de organizações sem estrutura
<https://pt.wikipedia.org/wiki/A_tirania_de_organiza%C3%A7%C3%B5es_sem_estrutura>,
que eu recomendo fortemente para todos interessados no tema (num caso
recente aqui mesmo, vimos a descompostura intelectual diante do tema, como
foi bem apontado por uma outra conselheira consultiva e acredito que possa
ter servido de exemplo).
Por fim, para tentar persuadir de minha boa-fé para chegarmos a um
consenso, vou sugerir no dia da minha palestra traduzirmos o termos
meriticracy <https://en.wikipedia.org/wiki/Meritocracy> da Wikipédia
anglófona para a lusófona. Incluindo, inclusive, essas referências para
entedermos o assunto de modo mais profundo, como sugerido. Recomendo
fortemente a leitura e reflexão diante das várias condições iniciais e de
contorno.
Everton
Em 11 de agosto de 2015 10:44, Jorge Machado <machado em usp.br> escreveu:
> Caro Tom (e companheir em s da OKF),
>
> A meritocracia tem como característica uma estrutura vertical de gestão,
> mecanismo de decisão top-down, a existência de hierarquias, aversão à
> promoção da igualdade como critério, ausência de validação das decisões
> pelas camadas de "menos mérito", o que a torna quase imune a mudanças que
> venham "de baixo". Sua legitimidade não se dá através de accountabilitty
> (prestação de contas), transparência, ou mecanismos de participação que
> promovam interesses mais amplos, se não que apenas pelo suposto "mérito"
> dos que detêm o poder. Como a universidade tem a meritocracia como base de
> estrutura de poder e do processo de tomada de decisão, em parte, os
> problemas que você se refere na mensagem estão associados à meritocracia.
>
> Outra parte dos problemas que você lista em sua mensagem se referem a
> questão da estabilidade do funcionalismo público. Em poucas palavras: há o
> modelo liberal, norte americano, com enorme disparidade de salários e
> contratos de curta duração; e há outro modelo, social-democrata/europeu,
> onde a diferença salarial é bem menor e o docente possui vínculo estável
> com o serviço público. De fato, se o modelo das universidades
> norte-americanas for a opção, então há que aceitar a precarização do
> trabalho, a punição às mulheres que sacrificam a carreira para serem mães
> (ou os pais que cuidam dos filhos, que em alguns países da Europa, podem
> tirar licença-paternidade de até 2 anos). E esqueça qualquer política de
> cotas, pois isso vai contra o princípio do mérito - como se a história
> colonial não trouxesse consequencia às gerações seguintes! Na meritocracia,
> quem está em situação desprivilegiada, o está por sua própria culpa.
>
> Na USP, a meritocracia criou uma série de gratificações e privilégios para
> algumas castas encasteladas no poder (por "mérito") com supersalários. Na
> Unicamp
> <http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/07/1655882-cupula-da-unicamp-recebe-dois-salarios-e-ultrapassa-teto-de-sp.shtml>,
> criaram até um segundo registro funcional para que os meritosos dirigentes
> pudessem ter dois salários e escapassem do teto constitucional. Na USP,
> como solução aos problemas financeiros que os meritosos dirigentes
> causaram, os próprios decidiram desativar as creches, desmontar o Hospital
> Universitário e trocar funcionários por terceirizados mal pagos por
> empresas suspeitas (como a Pluri Serviços e O.O. Lima, flagradas em
> diversas esquemas fraudes em licitações) com custosos contratos.
>
> Se pesquisar mais profundamente sobre o tema, verá que a meritocracia é
> usada desde o século XVIII para defender privilégios e combater políticas
> igualitárias. Esse discurso é perigoso. Assim, não me sinto representado
> por uma organização que defende a "meritocracia" (desculpe Tom, me corrija
> se você representa a si mesmo ou à OKF no evento organizado pelos alunos de
> Sistemas de informação da USP em que falará sobre suas ideias de
> meritocracia).
>
> Na verdade, não entendi o que levou a entrada do tema no debate (seria
> temor às assembleias gerais?), nem quais seriam as consequências objetivas
> dessa "filosofia" de governança. O que percebi foi uma mudança na forma de
> comunicação por parte da direção executiva, que - ao invés de uma postura
> discreta - passa a se manifestar sobre muitos assuntos em primeira pessoa.
>
> A meritocracia enquanto um princípio de governança é nociva à OKBR e
> inevitavelmente aprofundará á desunião, pois muitos participantes defendem
> sistemas mais horizontais e colaborativos de gestão e de tomada de decisão
> - o que faz sentido com a militância dos movimentos "open". Talvez o foco
> foi desviado do verdadeiro problema do *método* associado à falta de
> experiência em gerir uma organização com tais características.
>
> Gostaria de dizer que respeito qualquer opinião contrária a minha. Vejo
> essa questão como eminentemente política e ideológica, sem levar para o
> lado pessoal.
>
> Abraços,
>
> Jorge
>
>
>
>
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