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Heloisa Pait heloisa em okfn.org.br
Terça Julho 28 22:37:18 UTC 2015


Oi Everton,

Te passo o link de um vídeo onde o Diego fala de modo mais detalhado da
critica dele:
https://www.periscope.tv/w/aIfgODg4ODk2ODV8NDg4OTc5OTdww5pH4JrGmyuGCi3UhkhIFUNvwX9ZAZQBmnOJrMgwKg==

Heloisa

2015-07-26 13:24 GMT-03:00 Everton Zanella Alvarenga <tom em okfn.org.br>:

>
>
> Em 25 de julho de 2015 09:44, Heloisa Pait <heloisa em okfn.org.br> escreveu:
>
>>
>> Queria também agradecer a todos, foi um debate excepcional! Fiquei
>> contente mesmo em ter participado!
>>
>
>
> Heloisa, que bom que gostou!! Eu não consegui na hora acompanhar todo o
> debate pois tinha que fazer várias coisas durante, mas vários trechos do
> vídeo no youtube e achei que tem muito o que podemos explorar a partir do
> que foi discutido. Quando tivermos a versão editada, espero achar tempo
> para escrever um post no nosso blog sobre o tema.
>
>
>
>> A frase da Marina que você citou teve bastante repercussão na mídia.
>> Gostei em especial do que Diego Escosteguy disse: "Marina reclama que o
>> povo nada faz contra a corrupção. Ainda bem. As instituições - aquelas que
>> já existem - fazem por ele."
>>
>
> Helo, pode passar o texto completo onde isso foi dito? Eu tendo a
> discordar veementemente, pois está generalizando todas instituições, muitas
> delas falhas, arcaicas e ainda em desenvolvimento. Ainda mais num país que
> vive seu maior período de sua história numa democracia após décadas de uma
> ditadura militar. E quando falamos de democracia, a qual democracia nos
> referimos? Estamos falando da democracia liberal, que surgiu no século
> XVIII <https://en.wikipedia.org/wiki/Liberal_democracy#Origins>. Apesar
> dos avanços das instituições democráticas brasileiras desde o fim da última
> ditadura, não devemos deixar de ver a crise ela está, crise que ocorre até
> mesmo nas democracias liberais mais avançadas. Pensando só na França e
> Estados Unidos, muito mais maduras que a nossa e tiveram lideranças
> intelectuais no surgimento dessa democracia liberal, inspirando as
> revoluções francesa e americana, suas democracias estão também em crise.
> (1) E acho que isso está bastante relacionado com a crise civilizatória
> (crise econômica, crise social, crise ambiental, crise política e crise de
> valores) que estamos vivendo, enfatizado pela Marina Silva.
>
> Hoje temos 7 bilhões de pessoas, no final do século XVII não tínhamos nem
> 1 bilhão de pessoas. Desde então tivemos diversos progressos (e. g., o
> surgimento dos direitos humanos - só após o fim da segunda guerra
> mundial!), mas nossos sistemas não estão atendendo a demanda da maioria da
> população mundial. E acreditar que nossas instituições democráticas estão
> sendo suficiente para diminuir a corrupção me parece muito ingênuo.
>
> Só pensarmos no papel das escolas, que obviamente possuem um papel
> fundamental para diminuir a corrupção. Não explicamos nada sobre como
> funciona nossa política, não explicamos nada sobre o funciomantos dos
> poderes de nossa república, não ensinamos nada sobre nossos direitos civis.
> Falhamos até mesmo em ensinar a ler e escrever! Como podemos acreditar em
> nossas instituições quando, ao pensar numa das mais básicas, podemos
> elencar uma série de falhas gravíssimas para contribuir com o problema da
> corrupção.
>
> Claro que nossas instituições democráticas estão progredindo em relação a
> época obscura das últimas ditaduras. E isso está contribuindo para diminuir
> a corrupção de diversas maneiras. Mas isso não é suficiente.
>
> Será que as pequenas corrupções do dia-a-dia vão ser resolvidas pelas
> instituições? As pessoas vão parar de usar o jeitinho brasileiro por causa
> de alguma entidade burocrática?
>
> Seja a corrupção na política, sejam essas pequenas corrupções do
> dia-a-dia, acredito que só teremos uma mudança cultural e efetiva quando os
> indivíduos passarem a ter uma postura mais de protagonista do que de
> espectador (pensando alto: questiono se nossa postura tão apática como
> meros espectadores não tem a ver também com termos começado a a alfabetizar
> nossa população numa época em que a TV surgira como grande meio de
> comunicação na década de 60). A questão aqui é desenvolver a capacidade de
> assumir a sociedade como seu problema, o povo como seu problema
> (coincidentemente vi agora um vídeozinho onde Darcy Ribeiro
> <https://www.facebook.com/IvanValentePSOL/videos/1025427200835495/> fala
> justamente isso, um grande exemplo de pessoa que, de fato, assumiu e agiu
> diante dos problemas da nossa sociedade), o que não é trivial, ainda mais
> com nossa tendência de não sairmos de nossas bolhas.
>
> Outro aspecto importante que eu vi nessa fala da Marina foi o fato de
> simplificarmos os problemas como uma dualidade de visões (Partido A vs.
> Partido B, visão X vs. visão Y etc.), o que acaba dificultando o diálogo
> entre visões diferentes que almejam, muitas vezes, coisas parecidas.
>
> Vou transcrever o que ela disse na conclusão de sua fala, esse trecho que
> gostei:
>
> "A política está, aos poucos, perdendo a capacidade de fazer a
> transformação. Porque ele diz "Nós conseguimos liberdade para fazer
> qualquer coisa, menos mudar o sistema. E se temos liberdade de fazer
> qualquer coisa, menos mudar o sistema, esse leviatã está dizendo que nós
> não podemos mudar nada. E a política precisa se reconectar com a sua
> potência transformadora. É disso que se trata, é isso que está em jogo no
> mundo inteiro. E talvez essa crise da civilização não seja a militância de
> uma pessoa, de um grupo, de um partido. É a militância de todos ao mesmo
> tempo agora. Mas para isso a gente precisa estar conectado na visão. Para
> isso a gente precisa ter processos que sejam adequados e as estruturas
> sejam adequadas. A visão não pode ser uma visão autoritária, a verdade não
> está com nenhum de nós, ela está entre nós. Não pode ser uma estrutura
> rígida, tem que ser uma estrutura flexível, com plasticidade necessária
> para acompanhar a velocidade dos momentos. E obviamente que os processos
> altamente democráticos, sem a pretensão de homogeneizar o sonho e diluir as
> diferenças. Nós somos diferentes, sonhamos diferente, desejamos diferente.
>
> Quando os projetos totalitários de direita ou de esquerda oferecem para
> você um destino, é sempre muito na base de que nós somos iguais, estamos
> todos caminhando numa mesma direção. Não é isso. Todo mundo tem interesse,
> não é errado ter interesse. O erro é quando alguém de forma ilegimia impõe
> o seu interesse ao interesse do outro. Depois do debate talvez a gente
> falar um pouco sobre como é que vejo a liderança para esse mundo que está
> se descortinando, qual é o papel da liderança, já que a gente não se pode
> ficar refém apenas das estrutura e das lideranças carismáticas. Eu digo
> isso com tranquilidade pois eu sei que tenho um certo carisma. Mas se
> existe uma coisa para a qual eu quero usar o carisma que tenho, é para
> convencer as pessoas que não dependam do carisma. O mundo complexo que
> temos diante de nós exige sujeitos, que se coloquem como sujeitos. E se
> colocando como sujeitos, assumindo suas *responsabilidades*.
>
> Aqui no Brasil todo mundo está muito feliz de dizer que a culpa da
> corrupção é da Dilma. Enquanto a culpada pela corrupção for a Dilma, o
> Lula, o Sarney, o Collor, o Dom Pedro II e I, vai ter corrupção feia!
> Quando a corrupção virar um *problema nosso*, acabaremos com a corrupção,
> ou pelo menos criaremos instituições para coibí-la. Porque é praticamente
> impossível com seres humanos imperfeitos. Pessoas virtuosas criam
> instituições virtuosas. E instituições virtuosas corrigem as pessoas,
> quando elas falham em suas virtudes. Então não é sustentável achar que a
> corrupção é por causa de uma pessoa, de um grupo ou de um partido. Se for
> assim, nunca vamos resolver.
>
> Enquanto a escravidão era um problema dos senhores donos de escravos,
> tinha escravidão no Brasil. Quando virou um problema de médico, advogado.
> de engenheiro, de política, de todo mundo, acabamos com a escravidão. A
> mesma forma com a democracia. Enquanto a ditadura era um problema de
> militares, ditadura feia. Quando a ditadura virou um problema de político,
> de religioso, de artistas, de jornalista de todo mundo, reconquistamos a
> democracia. Isso é a dimensão da sustentabilidade politica, tem uma outra
> complexidade que não se limita a dualidade esquerda-direita como a gente
> simplisticamente está acostumado a dizer. A gente tem que olhar para o
> mérito do que está acontecendo no mundo e trabalhar muito mais no campo dos
> paradoxos do que a mera e simples dualidade opositiva."
>
> E as últimas eleições deixaram bem claro o quão distantes estamos de
> simplificarmos nossos problemas nessa dualidade opositiva. Acho que até
> mesmo aqui entre nós isso pode estar ocorrendo.
>
> (1) Sobre a francesa, recomendo esse documentário 'I didn't vote
> <https://www.youtube.com/watch?v=jYYR0tfcSQs>', sobre a americana, parece
> que o Lessig expõe bem alguns de seus problemas no seu 'Republic, Lost
> <http://republic.lessig.org/>', mas nem precisamos dessa
> intelectualização, estamos vendo nas ruas a partir dos movimentos de
> ocupação <https://en.wikipedia.org/wiki/Occupy_movement>. E acho bacana a
> perspectiva geral que o pesquisador português Manuel Arriaga dá no livro
> 'Reboot Democracy' <http://rebootdemocracy.org/> sobre os problemas com a
> atual democracia, apontando suas principais falhas e propondo algumas
> soluções, além de listas tentativas ao redor do mundo.
>
> Também acredito que devemos usar os meios para aprimorar nossas
>> instituições, com todo o respeito que elas merecem. Elaborei melhor essa
>> idéia no texto que postei ontem em nosso blog, http://br.okfn.org.
>> Aliás, quem tirou as fotos? Super obrigada!!!
>>
>
> Para registro nos arquivos da lista, o link para sua boa reflexão:
> http://br.okfn.org/2015/07/24/tecnologia-e-representacao-substitutos-ou-complementares/
>
> Foi a Isabela Meleiro, uma das voluntárias, quem tirou essa fotos, em
> breve coloco no nosso grupo no flickr e algumas no Wikimedia Commons.
>
> Tom
>
-------------- Próxima Parte ----------
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