[ciência aberta]Nature Communications to become fully OA Fwd: [Open-education]
Everton Zanella Alvarenga
everton.alvarenga em okfn.org
Quarta Setembro 24 19:30:39 UTC 2014
Caro Miguel,
minha sugestão era publicar no cienciaaberta.net. Quem cuida da parte
editorial desse blog são o Raniere e o Abdo, copiados. Minha sugestão é que
eles criem uma conta para você publicar ou alguém publique como convidado.
Ou a Jamila, também copiada, pode auxiliá-lo na publicação no site da OKBR <
http://br.okfn.org>. Fica a sua escolha e podemos prosseguir fora das
listas (copiando aqui a lista da OKBR para o pessoal que quiser escrever
também sobre esse assunto ou outros relacionados ao nosso trabalho).
Valeu, Miguel!
Tom
Em 24 de setembro de 2014 14:49, Miguel Said Vieira <msv em dev.full.nom.br>
escreveu:
> Carissimi,
>
> segue abaixo um esboço do post que vou publicar no meu blog; comentários
> ou sugestões são muito bem-vindos.
>
> Tom, você estava sugerindo incluir links para textos como esse num post
> específico do cienciaaberta.net, ou republicar diretamente?
>
> Abraços,
> Miguel
> _________
>
> *Periódico da Nature em acesso aberto "puro": já podemos comemorar?*
>
> A editora Nature informou
> <http://www.nature.com/press_releases/ncomms-oa.html> recentemente que,
> em outubro, seu periódico *Nature Communications*
> <http://www.nature.com/ncomms/index.html> se tornará de acesso aberto
> "puro": todos os artigos publicados a partir de então poderão ser lidos e
> reutilizados gratuitamente (a princípio eles entrarão no ar sob uma licença
> Creative Commons-BY, que permite praticamente todo tipo de uso e reuso).
> Até hoje o periódico era híbrido, publicando em acesso aberto ou fechado de
> acordo com a opção do autor, mas agora ele será exclusivamente de acesso
> aberto. O grupo que publica a revista *Science *também já possuía um
> periódico de acesso aberto "puro", o *Science Advances* — mas parte dos
> artigos eram publicados sob a licença CC-NC, que impede usos comerciais.
>
> Pronto: os maiores bastiões da publicação científica tradicional dão
> sinais claros de apoiar o avanço do acesso aberto. Será que já podemos
> estourar as champanhes? É evidente que a notícia tem aspectos positivos:
> vidas poderão ser salvas em países pobres, quando médicos, por exemplo,
> tiverem acesso às informações científicas mais atualizadas — informações
> que antes estavam fechadas atrás de um *paywall* intransponível para a
> maioria do terceiro mundo. Os trabalhos publicados sob acesso aberto tendem
> a alcançar mais visibilidade, e isso pode beneficiar a pesquisa de países
> como o Brasil.
>
> O quadro, no entanto, é mais complexo do que parece. Nesses dois casos,
> Nature e Science adotam um modelo específico de acesso aberto: o chamado
> "modelo ouro"
> <http://legacy.earlham.edu/%7Epeters/fos/overview.htm#journals>, em que
> os custos da publicação são cobertos por uma taxa cobrada dos autores dos
> artigos aprovados (o *article processing charge*, ou APC); o *acesso aos
> artigos* é aberto para leitores e usuários, mas o *acesso a esse espaço
> de publicação* é fechado aos autores que puderem pagar a cobrança. No
> caso do *Nature Communications*, essa cobrança é de US$ 5000 por artigo,
> uma das mais altas em qualquer periódico existente (em 2010, a maior
> registrada era de US$ 3900 — segundo o levantamento de um artigo... em
> acesso fechado
> <http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/asi.22673/abstract>).
>
> Essa cobrança equivale a quase dois meses de salário líquido de um
> professor brasileiro nas melhores carreiras de universidades públicas (as
> de dedicação exclusiva). Quem aí topa pagar 15% de sua renda anual para
> publicar *um *artigo? A Nature informou que dispensará o pagamento da
> taxa para pesquisadores de uma lista de países mais pobres
> <http://www.who.int/hinari/Global_HINARI_registered_2014.png> (mas que
> não inclui Brasil, China, Índia, Paquistão e Líbia, entre outros), e também
> para outros numa análise "caso a caso" — mas sem dar mais nenhuma
> informação objetiva sobre essa política. (Palpito que é melhor não apostar
> numa generosidade desbragada da editora que cobra US$ 32 para quem quer
> ler um único artigo, ou US$ 18 para ler uma única seção de cartas [!] de
> suas revistas <http://www.nature.com/subscriptions/purchasing.html>.)
>
> Por outro lado, a tendência mundial é que as instituições às quais os
> pesquisadores estão vinculados (a universidade em que ele trabalha, ou a
> agência de fomento à pesquisa que financia sua pesquisa) arquem com parte
> dessas taxas, em parte pelo valor que atribuem à publicação em periódicos
> de alto impacto. A Fapesp, por exemplo, oferece um apoio específico para
> pagar essas taxas <http://www.fapesp.br/190>, e também autoriza que elas
> sejam pagas com a chamada "reserva técnica" de bolsas e apoios a projetos
> de pesquisa. Ocorre, porém, que a verba disponível para esses auxílios é
> limitada, e em geral eles não são dados automaticamente; no exemplo da
> Fapesp, os pesquisadores concorrem entre si pela verba, e um dos principais
> critérios de avaliação é — como em quase toda a burocracia acadêmica hoje —
> o histórico de publicações do autor:
>
> *Critérios de análise* [...]
>
> a) Histórico Acadêmico do Solicitante
>
> a.1) Qualidade e regularidade da produção científica e/ou tecnológica.
> Elementos importantes para essa análise são: lista de publicações em
> periódicos com seletiva política editorial; livros ou capítulos de livros
> [...]
>
> Ou seja, o pagamento pelas instituições tem boas chances de alimentar uma
> espécie de espiral viciosa, em que pesquisadores que já publicam em grandes
> revistas conseguem mais dinheiro e mais chances de publicar, e os demais
> não.
>
> O avanço do acesso aberto pela via do modelo ouro ainda envolve outro
> risco: a proliferação das chamadas editoras predatórias. Trata-se de
> editoras que fazem da publicação em acesso aberto (com pagamento por
> autores) um negócio em que o lucro é maximizado por meio da redução
> drástica dos padrões de qualidade exigidos na revisão por pares — ou mesmo
> pela virtual eliminação da revisão: se pagar, publica-se. Por um lado, esse
> modelo satisfaz as cobranças de produtivismo sobre pesquisadores (cujas
> carreiras são avaliadas pelo crivo do lema *publicar ou perecer*); por
> outro, ele explora o fato de que, no modelo ouro, é possível tornar o ato
> da publicação em uma mercadoria, a ser vendida a esses pesquisadores, e com
> isso obter altas taxas de lucro — *mesmo sem recorrer ao monopólio
> baseado em propriedade intelectual*, que era a chave do poder econômico
> das editoras científicas tradicionais com publicações "fechadas". O uso de
> uma lógica estritamente mercantil resulta, aqui, na poluição e degradação
> do acervo de conhecimento científico da humanidade, pois o central para as
> editoras predatórias é a maximização de lucro: a qualidade dos artigos é
> irrelevante, ou apenas um fator secundário.
>
> Evidentemente, não quero com isso dizer que a Nature tornou-se uma editora
> predatória; mas existe o risco de uma lenta corrupção do processo de
> revisão (para garantir mais lucros com publicações) em editoras sérias mas
> com menos poder de mercado, assim como o risco da multiplicação de
> periódicos fajutos, que fazem uma revisão por pares apenas de fachada.
> Nesse último caso, infelizmente não se trata de um risco hipotético: esse
> "modelo de negócio" escuso já é adotado em centenas de periódicos
> <http://scholarlyoa.com/individual-journals/>.
>
> Mas será que então estamos num beco sem saída quanto a esse problema da
> mercantilização da publicação científica? Ele estará presente seja nos
> periódicos fechados, seja nos de acesso aberto? Não necessariamente: mesmo
> no interior do modelo ouro, há iniciativas positivas nesse sentido — é o
> caso da Public Library of Science (PLOS) <http://www.plos.org/>, uma
> editora em acesso aberto que cobra pela publicação, mas funciona sem
> finalidades de lucro <http://www.plos.org/about/>; por conta disso, ela
> não tem motivos para eliminar critérios de qualidade na seleção de artigos
> com vistas a obter mais com a cobrança por publicação. E vale lembrar, por
> fim, que o modelo ouro não é o único modelo existente para a publicação em
> acesso aberto: a principal alternativa é o modelo verde
> <http://legacy.earlham.edu/%7Epeters/fos/overview.htm#repositories>,
> baseado em repositórios institucionais. Esse modelo impõe uma série de
> desafios de coordenação e de custeio, mas a tendência é que nele a
> publicação deixe de seguir uma lógica estritamente mercantil, e siga um
> modelo mais próximo dos interesses comuns da sociedade e da comunidade
> acadêmica; ele não é propriamente um substituto do modelo ouro (até porque
> a princípio ele não é pensado para custear a revisão por pares), mas é
> importante juntar esforços para fortalecê-lo, evitando que o modelo ouro
> torne-se a única via para o acesso aberto.
>
>
>
> On 09/23/2014 09:39 PM, Miguel Said Vieira wrote:
>
> Oi Alê,
>
> eu concordo com algumas das ressalvas que você fez (e até por isso havia
> escrito que me parece que o problema é *concentrar* o acesso aberto nesse
> modelo). Pincei outros pontos em que discordo:
>
> Diante disso confio muito mais em organizações independentes, como o PLOS,
> que atua no mercado, encontrarem soluções para problemas e propagá-las, do
> que soluções "públicas".
>
> A PLOS não é uma entidade pública, mas também não é exatamente "de
> mercado": é uma organização sem finalidade de lucro, e talvez até por isso
> seja capaz de fixar políticas mais amplas (e com critérios mais objetivos)
> de descontos para pesquisadores de países pobres (a política da Nature é
> vaga e cobre só os países de "low-income"; a da PLOS é bem mais objetiva e
> cobre os de "low-" e "middle-income"). Nesse exemplo que você deu, a
> questão pra mim é menos se é "público" (estatal) ou não, e mais se segue
> uma lógica mercantil (em linhas gerais, a PLOS não segue).
>
> Todos os demais problemas, como os mencionados periódicos predatórios, só
> existem pelo absurdo que é o atual sistema de contagem de pontos,
> decorrente da incapacidade cognitiva da academia, e não vão melhorar com um
> ou outro modelo
>
> Nesse caso, acho que é relevante considerar que o modelo ouro "encaixa
> como luva" nos sistemas de contagens de pontos: a Fapesp tem uma linha de
> apoio pra pagar APCs, e o primeiro critério de avaliação é... o histórico
> de publicação. É meio que uma espiral produtivista: quem mais publica,
> mais terá facilidade pra publicar; a gente sabe que essa espiral é enorme
> e anterior ao próprio acesso aberto, mas o modelo ouro serve bem como mais
> uma engrenagem.
>
> De qualquer jeito, concordo que não dá pra ser uma crítica absoluta, e sim
> uma problematização dessa via e das suas potenciais consequências futuras
> (por exemplo, a ampliação dessa espiral produtivista, e a multiplicação das
> editoras predatórias).
>
> Aceitando a instigada do Tom, estou escrevendo um post com a minha posição
> sobre esse debate. :-)
>
> Abraços!
> Miguel
>
>
> On 09/23/2014 09:01 PM, Alexandre Hannud Abdo wrote:
>
> Ni!
>
> Eu acho que devemos tomar cuidado sobre como criticamos a modalidade de
> acesso aberto financiada por quem submete.
>
> Esse modelo resolve o principal problema que provocou o movimento de
> Acesso Aberto: dar acesso à produção científica.
>
> E a lógica desse modelo é muito clara, coerente e positiva, propondo que
> faz parte do custo de uma pesquisa financiar a sua disseminação.
>
> E quando todos tem acesso à produção, ainda faz-se justiça ao que as
> nações desenvolvidas, os grandes publicadores de ciência, custeiam
> proporcionalmente sua disseminação.
>
> Além disso, se editoras começaram a prestar novos serviços e os
> pesquisadores começaram a usá-los, estão suprindo uma demanda e o resultado
> instantâneo é positivo para todos os envolvidos.
>
> Podemos até perguntar se a demanda é artificial, se há desperdício etc.
> Mas essas são coisas que, na discussão do acesso, apenas depois de décadas
> de conivência e paralisia da comunidade científica tornaram-se problemas.
>
> Na discussão desses novos modelos, são novos mercados ainda em formação,
> diante de uma outra comunidade científica.
>
> Comunidade que, se capaz de coordenar-se, define as políticas de
> remuneração e financiamento, que traz em si a demanda, que pode determinar
> quem e como irá serví-la.
>
> Se incapaz de coordenar-se, tão menos poderá vir a substituir o papel do
> mercado em atender essa demanda.
>
> E nisso chegamos a um ponto muito maior que Acesso Aberto.
>
> Não será um modelo ou outro de acesso que irá definir se a academia será
> capaz de desenvolver inteligência conjunta para recuperar o rumo da ciência
> junto à sociedade.
>
> Qualquer modelos pode ser saudável se a academia recuperar sua
> racionalidade.
>
> E na atual conjuntura brasileira, acho muito engraçado se falar na
> academia tomando conta de mais, quando mal dá conta de cuidar do que já
> tem, de desenvolver perspectivas não antiquadas sobre como já se organiza.
>
> Diante disso confio muito mais em organizações independentes, como o
> PLOS, que atua no mercado, encontrarem soluções para problemas e
> propagá-las, do que soluções "públicas". E o próprio PLOS já resolveu esse
> problema apontado por vocês, pois só cobram para publicar de quem tenha
> recursos para isso, quem solicita isenção justificada publica gratuitamente.
>
> Todos os demais problemas, como os mencionados periódicos predatórios,
> só existem pelo absurdo que é o atual sistema de contagem de pontos,
> decorrente da incapacidade cognitiva da academia, e não vão melhorar com um
> ou outro modelo, pois eles existiam com a mesmíssima essência antes do
> acesso aberto, na forma dos bundles das grandes editoras, e continuarão
> existindo e até piorariam num sistema "público", com incontáveis
> publicações inúteis se acumulando por corporativismo acadêmico e sendo
> incorrigivelmente financiadas pela viúva.
>
> Então muita calma antes de tacar pedra em conquistas que efetivamente
> melhoram a vida de centenas de milhares de pesquisadores, e bilhões de
> cidadãos, nos lugares mais frágeis do planeta.
>
> Vamos aproveitá-las e nos apoiar nelas para construir outras, não ficar
> comparando-as com irrealidades.
>
> Abs,
> ale
> .~´
>
>
> 2014-09-23 18:35 GMT-03:00 Everton Zanella Alvarenga <
> everton.alvarenga em okfn.org>:
>
>> Esses pontos levantados por Ewout, Viviane e Miguel tem em algum blog
>> em português?
>>
>> Valeria muito posts de blog sobre o assunto. Inclusive sobre suas teses.
>> ;)
>>
>> O Ewout está acostumado com blogs, mas se alguém precisar de ajuda,
>> estou copiando a Jamila que poderá dar uma mão para publicarmos no
>> cienciaaberta.net. :)
>>
>> Tom
>>
>> Em 23 de setembro de 2014 18:21, Miguel Said Vieira <msv em dev.full.nom.br>
>> escreveu:
>>
>>> O modelo ouro também é o que viabiliza as chamadas "editoras
>>> predatórias", que fazem da publicação em acesso aberto um negócio em que o
>>> lucro é maximizado pela redução drástica dos padrões de qualidade exigidos
>>> na revisão por pares -- ou mesmo pela eliminação da revisão, na prática: se
>>> pagar, publica. (Como a Viviane, discuti isso na minha tese.)
>>>
>>> Embora obviamente nem toda editora trabalhando com o modelo ouro siga
>>> essa linha (é pouco provável que o acesso aberto em Nature e Science, por
>>> exemplo, adote padrões de qualidade inferiores), concordo com a avaliação
>>> de que é problemática a tendência em concentrar o acesso aberto nesse
>>> modelo, em que a publicação continua sendo uma prática bastante
>>> mercantilizada.
>>>
>>> Abraços,
>>> Miguel
>>>
>>>
>> --
>> Everton Zanella Alvarenga (also Tom)
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>> Lista cienciaaberta
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