[okfn-br] Palavra Aberta?

Arthur Serra Massuda a.serramassuda em gmail.com
Sexta Abril 26 21:24:44 UTC 2013


André, ao final deste semestre, após minha defesa, disponibilizarei a
integralidade das argumentações. Mas estou disposto a testar meus
argumentos neste fórum, como estou fazendo com a Heloisa. O resumo da minha
dissertação, por enquanto:

O trabalho investiga a constituição do debate público em um contexto
democrático à luz da Primeira Conferência Nacional de Comunicação
(Confecom). Com a análise dos discursos dos jornais Correio Braziliense,
Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo e Zero Hora, no mês de
dezembro de 2009, data da realização da etapa nacional da referida
conferência, pergunta se o discurso da imprensa brasileira funciona a
partir de parâmetros liberais. O modelo de debate público no país, em que
sujeitos articulados pela técnica jornalística difundem suas expressões por
meios de comunicação sobretudo privados, pode ser encontrado nas
recomendações do sistema interamericano de liberdade de expressão, da
Organização dos Estados Americanos, e é constituído a partir das
necessidades da democracia. Nessas recomendações, a democracia opera de
forma análoga ao liberalismo utilitário que Michel Foucault revela nas
práticas de governo a partir do séc. 18, voltadas para a gestão de
interesses entre o público e o privado. Entre as necessidades democráticas,
a busca jornalística pelo interesse público se destaca por exigir uma
configuração específica na economia política da comunicação para o debate
público funcionar adequadamente, caso contrário, lida-se com a ameaça
constante da sobredeterminação dessa busca pelo interesse particular. Por
outro lado, ao sustentar um discurso produtor de um antagonismo
inconciliável, essa posição liberal, embora necessária para a democracia
recomendada pelo sistema interamericano, não atende as necessidades da
democracia radical defendida por Chantal Mouffe em The Democratic Paradox,
focadas na dissolução de antagonismos. A Confecom torna-se objeto de estudo
de caso para explorar como o debate conferencial lida com antagonismos. A
análise da cobertura jornalística da Confecom pelos referidos jornais
baseia-se na teoria política do discurso de Ernesto Laclau e Chantal
Mouffe. Ao final, esboça-se uma possibilidade de constituir o debate
público a partir de outra disciplina discursiva na técnica jornalística,
com os fundamentos da teoria do reconhecimento de Axel Honneth.

Abraços,
Arthur


2013/4/26 André Brito <brito.afa em gmail.com>

> A argumentação dá muito boa Arthur. Me somo a esse entendimento de que a
> comunicação deve realmente ser democratica. E o mestrado, rola liberar pra
> gente dar uma lida?
>
> Abraços
>
>
> 2013/4/26 Arthur Serra Massuda <a.serramassuda em gmail.com>
>
>>
>> A (in)capacidade é a mesma, mas as instituições em torno não. Não é
>> preciso convencer ninguém se as regras orientam essas capacidades dentro de
>> um jogo. E como é o jogo do debate público? Jornalistas falando sobre o
>> mundo dentro da imprensa sobretudo privada. Isso é um modelo liberal, não
>> precisa convencer ninguém, é só entrar no jogo que já está funcionando.
>>
>> Eu basicamente argumento que esse jogo foi criado a partir de princípios
>> de mercado, não princípios democráticos. Meu mestrado analisa o modelo de
>> debate público democrático recomendado pelo sistema interamericano de
>> liberdade de expressão: é cópia e cola do liberalismo utilitário, fundado
>> na economia política, pensando na harmonia social a partir da competição e
>> dos interesses.
>>
>> Esses não são princípios democráticos. (Pensar democracia a partir da
>> gestão de interesses conflitantes é não pensar na diversidade de sujeitos
>> de direito que buscam reconhecimento social - minorias, movimentos, povos
>> tradicionais, grupos identitários. A democracia deveria estar mais
>> preocupada na ampliação da noção coletiva respeito social e menos em
>> defender interesses, na minha concepção - que é a de Axel Honneth.) Como
>> pensar a imprensa a partir da democracia, não do mercado, é o atual desafio
>> da liberdade de expressão. Veja bem, não se trata de estatizar, mas de
>> democratizar, expandir valores e regras democráticas para os diferentes
>> espaços sociais. Eu escolhi o debate público. E essas foram algumas das
>> minhas conclusões.
>>
>> Quanto tiver tempo, gostaria que você fosse mais clara nos valores
>> discordantes, seria muito importante para a elaboração da minha dissertação
>> ter esse feedback.
>>
>> Abraços,
>>
>>
>>
>> 2013/4/26 Heloisa Pait <heloisa.pait em gmail.com>
>>
>>> Li e achei o que você escreveu fascinante. Discordo completamente, mas
>>> você realmente resumiu a questão. Parabéns!
>>>
>>> Estou inclusive escrevendo um artigo sobre os dilemas do liberalismo no
>>> Brasil e aí está; a ideologia liberal não convence ninguém. Na prática, no
>>> dia-a-dia, somos libertários. A capacidade que eu tenho de mandar na minha
>>> faxineira e nos meus alunos se equipara à capacidade do reitor da UNESP em
>>> mandar na minha vida. Cada um faz nesse país o que lhe dá na telha.
>>>
>>> Mas a ideologia não nos desce a goela.
>>>
>>> Obrigada!
>>>
>>> On 26/04/2013, at 11:35, Arthur Serra Massuda <a.serramassuda em gmail.com>
>>> wrote:
>>>
>>> > Condicionar esse controle a algumas necessidades da democracia (desde
>>> os mais clássicos, como a regulamentação do direito de resposta, até alguns
>>> mais ousados, como a diversidade ou eleição do conselho editorial)
>>> significa sim ir contra a livre iniciativa, pois diminui a influência do
>>> proprietário no próprio negócio. Se essas organizações como Millenium e
>>> Palavra Aberta conseguirem conceber que livre iniciativa, assim como
>>> liberdade de expressão, não é um valor absoluto, tenho certeza que uma
>>> aliança seria possível.
>>>
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