[okfn-br] Falta de infraestrutura para inovar torna Brasil o país da inovação zero

Diego Rabatone diraol em diraol.eng.br
Sexta Novembro 21 19:44:01 UTC 2014


Vou tentar responder super rápido e sintéticamente, e sei que estou
correndo o risco (e vai acontecer) de ser muito simplista, mas pensem nisso
como uma rápida introdução.. ;)

De forma geral as empresas, no Brasil, não dão valor a investimentos em
P&D. Quantas possuem laboratórios próprios de P&D? A BOSH na Alemanha,
sozinha, deve fazer mais P&D que todas as empresas brasileiras juntas -
Salvo raras excessões.
E acho que esse motivo (cultura empresarial no BR) é o que me leva tender a
ser contrário a essas "parcerias" entre empresa e universidade (que acaba
nunca sendo uma parceria, porque a Universidade e a Sociedade ganham quase
nada perto das empresas).

Sobre "O Brasil não produz inovação", acho que é só olhar para Petrobrás
(mesmo com toda corrupção que está se descobrindo) e Embrapa para perceber
que quem afirma isso está praticando pseudo-jornalismo de segunda categoria
né? Ou pesquisa meia-boca.. enfim...

Por fim, eu acho que realmente temos um problema de "gestão nas pesquisas",
e que poderia ser feito muito mais com os recursos que temos. Mas isso não
significa que mais recursos não são necessários.
E eu acho que as empresas deveriam ter setor de P&D próprios e ai sim estes
poderiam trabalhar em parceria (de verdade) com as universidades, com
limitações e condições bem claras de retorno para a sociedade.

=)

Abs!


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Diego Rabatone Oliveira
diraol(arroba)diraol(ponto)eng(ponto)br
Identica: (@diraol) http://identi.ca/diraol
Twitter: @diraol

Em 21 de novembro de 2014 15:02, Andres MRM <andres em inventati.org> escreveu:

> Quando vi o assunto do e-mail já imaginei que fosse uma notícia vinda do
> famoso "PIG", e acertei. Não gosto nem de abrir links deles para não dar
> "views", mas para comentar aqui tive que ler.
>
> Não morro de amores pelo PT, mas essa notícia me parece mais uma da linha
> "Olha como o país está indo para o buraco por culpa dos petralhas!", linha
> BASTANTE em voga pelo "PIG" nos últimos meses.
>
> Para não ficar no "argumentum ad hominem", não achei na matéria a fonte da
> dita "pesquisa" que eles citam, na qual se baseiam para afirmar:
> "Agora atenção para o número brasileiro: de tudo o que criamos aqui, 0% é
> completamente novo. Somos o país da inovação zero."
> Essa afirmação me parece descabida impossível de ser provada, pelo menos
> nesses termos genéricos.
>
> Inovação para mim é uma dessas palavras que, dita sozinha, pode querer
> dizer
> qualquer coisa, assim como desenvolvimento. Desenvolvimento para quem?
> Inovação com qual fim? Um câncer também se desenvolve, a bomba atômica
> também
> foi inovadora.
>
> Sobre a parceria entre empresas e academia, eu sou um dos que acha isso um
> "sacrilégio", pelo menos da forma como isso costuma ser feito: a população
> paga rios de dinheiro para manter a universidade funcionando, uma
> Microsoft da
> vida gasta algumas centenas de milhares, cria um laboratório com software
> deles e "sequestra" um grupo de pesquisadores para trabalhar para eles lá
> dentro. Você acaba usando dinheiro público para financiar empresas que não
> tem
> nada de público. E isso não ocorre só com software não. Sei, via minhas
> amigas
> da nutrição, que professores dão espaço para Nestle, Danone e afins irem
> nas
> aulas "orientarem" sobre quais produtos elas deveriam recomendar para
> crianças. Isso não faz sentido nem do ponto de vista científico, nem
> social.
> Quem se beneficia então?
>
> Sou totalmente contrário a universidades "torres de marfim", e tenho muitas
> críticas à ciência como um fim, logo acho sim que elas devam se abrir, mas
> não
> para empresas (pelo menos não apenas), mas sim para toda a sociedade. Para
> que
> desenvolvam justamente aquilo que as empresas não podem, e não podem porque
> não dá lucro. Remédios para doenças de "pobre", software que beneficie a
> comunidade mas que não comporte um "modelo de negócios", e uma infinidade
> de
> outros casos que o nosso modelo econômico falha miseravelmente em resolver.
>
> As universidades públicas são uns dos poucos lugares que ainda resistem à
> perversa lógica do mercado, de subordinar tudo ao lucro, o que permite a
> elas
> fazer o que talvez ninguém mais possa. A aproximação com empresas, pelo
> menos
> nos moldes atuais, me parece minar justamente essa característica tão
> valiosa.
>
>
> Abraços!
>
>
>
> On 21-11-14 11:12, Everton Zanella Alvarenga wrote:
>
>> Diogo e Leandro, obrigado pelos interessantes comentários.
>>
>> Diogo, legal saber esses exemplos, mas ainda acho que são tímidos. Espero
>> que tenhamos políticas públicas no nível nacional para ampliar isso.
>>
>> Seu comentário me fez lembrar duas coisas que observei na minha graduação.
>> Das várias horas que passei na biblioteca do instituto de física, me
>> surpreendia o número de vagas de empregos para físicos nas revistas
>> americanas e europeias. Nada comparado ao que vemos no Brasil. E o
>> contraste foi maior quando comecei a ir nas minhas primeiras entrevistas
>> de
>> emprego. Lembro claramente de uma dupla num banco em entrevistando e
>> fazendo aquela cara e comentários que física só servia para pesquisa e que
>> meu currículo na época era muito acadêmico (era algum emprego desses que
>> quem sabe ler e escrever consegue executar as tarefas e ganhar um salário
>> de classe média, nada muito desafiador, confesso que hoje estou feliz não
>> terem aceito, mesmo na época precisando dos fins.)
>>
>> Sobre a lei do Petróleo, não conhecia, parece interessante. É essa aqui
>> que
>> achei na Wikipédia, Lei do Petróleo
>> <https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_do_Petr%C3%B3leo>? (diz que é de 1997)
>> Queria ver melhor como é executada e se esses repasses funcionam.
>>
>> Há uns 10 anos lembro ter lido alguma matéria que mostrava que muito menos
>> do que é previsto por lei era repassado para as agências de fomento à
>> pesquisa estaduais, a exceção mais próxima do previsto por lei sendo São
>> Paulo via FAPESP, que me parece hoje ser uma das mais ricas e produtivas
>> (também por causa da situação econômica do estado).
>>
>> Mesmo que não vá todo dinheiro, pouca coisa vai mudar se não houver
>> mudanças culturais profundas, como essa cultura empreendedora nas
>> universidades. Eu gostaria de saber quais políticas públicas poderiam
>> catalisar esse processo.
>>
>>
>> Tom
>>
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