[okfn-br] Retirada da fazer-cracia e proposta sobre a meritocracia

Gustavo Sales vatsu21 em gmail.com
Quinta Agosto 13 14:17:06 UTC 2015


Bem rica a discussão :D

De novo, vou ser fazer-crático e exprimir minha opnião.

Ouvindo os comentário, acho que podíamos aproveitar o convite feito na
thread do GT de governança pelo Oda para conversarmos sobre as perguntas
daqui:
https://docs.google.com/document/d/1_6Cz4R8_XvOCXCn9akrM3aRnVl0Z53r4gOyuKLBKn8k/edit
e discutirmos aqui o que, de março para cá, funcionou e não funcionou, como
pede o Andres, ressaltando o importância do engajamento para a governança,
como muito bem colocado pela Natássya e definindo o assunto da discussão,
como prescrito pelo Edgar.

Me atrevo a dizer que há uma tensão política que extravasa a discussão do
tema valores da OK-Br e impactos na governança da organização. Sendo assim,
como novato e empolgado com a pujança intelectual, política e
organizacional do grupo, peço que deixemos por ora as desavenças de lado e
nos entreguemos ao que há de mais importante: Querer um mundo onde o
conhecimento livre esteja presente em todo nosso cotidiano, tanto online
como offline. E promover o conhecimento livre por acreditar em sua
capacidade de gerar grandes benefícios sociais.

Acham que o tema valores da OK-Br e impactos na governança da organização
define bem o que se discute aqui? Seria preciso estreitar ainda mais o
assunto para sermos mais produtivos?

Espero estar contribuindo positivamente. Caso não esteja, por favor, me
indiquem um melhor caminho.

Abraço,

Gustavo

ps- Vocês são como uma injeção de café na veia para mim

2015-08-13 9:51 GMT-03:00 Edgar Zanella Alvarenga <e em vaz.io>:

> On 13/08/2015 13:31, Andres MRM wrote:
>
> Correndo o risco de voltar para a discussão filosófica, que era justamente
>> o
>> que estava tentando evitar... O texto que o Edgar passou defende que é
>> preciso
>> ter igualdade de oportunidade para a meritocracia valer? (porque foi isso
>> que
>> eu entendi olhando BEM por cima) A ideia que eu estava comentando,
>> representada pelo trecho que peguei da página da wiki, é que não existe
>> igualdade de oportunidade. Pequenas diferenças na vida de uma pessoa (no
>> trecho fala de ser o primeiro ou segundo filho) farão com que ela tenha
>> motivações, aptidões, visões de mundo distintas, não fazendo mais sentido
>> você
>> usar a mesma métrica para pessoas distintas.
>>
>
> Andres, o texto que eu passei não "defende" (necessariamente) nada. É um
> texto filosófico sobre o conceito que está por trás em diferentes cenários
> da idéia de meritocracia e igualdade de oportunidade. E expõe diversos
> problemas e críticas, incluindo a falta de definição de métricas e outros
> problemas com o conceito e possíveis soluções. Mas reitero que isso varia
> de situação pra situação. Se estivermos falando num contexto econômico os
> problemas e motivações são distintos do que se estivermos pensando em
> aplicar num modelo organizacional. E repito: meritocracia não implica
> verticalidade (como não implica a ausência dela)!
>
> Veja a relação próxima entre igualdade de oportunidade com meritocracia
> nesta seção:
>
> http://plato.stanford.edu/entries/equal-opportunity/#EquOppMer
>
> Mas ainda não ficou claro o que se tem em mente ao se propor meritocracia
> numa organização como a Open Knowledge. Pode-se estar pensando, por
> exemplo, na escolha de pessoas em cargos bem definidos (conselho fiscal,
> coordenadores de projeto, equipes atuando em projetos, etc). De certa forma
> ao se pensar nesses cargos pode-se dizer que está sendo definida uma
> hierarquia visando maximizar a eficiência/alcance dos objetivos comuns/bom
> andamento organizacional ou dos projetos. Mas a escolha de quem irá atuar
> em cada cargo pode ser realizado de forma horizontal, por exemplo se
> tivesse um sistema de votação onde todos os membros da organização pudessem
> participar. Mas daí recai na questão de quem é considerado "membro" e qual
> sistema utilizado no processo decisório.
>
> Entenda que por trás do conceito "igualdade de oportunidade" está a idéia
> difícil de ser alcançada na prática de que todos deverão possuir as mesmas
> oportunidades (seja pra pegarem um cargo, vaga numa empresa, vaga numa
> faculdade, etc), sem privilégios baseado em castas, grupos étnicos, classes
> sociais, relações familiares, enfim. Daí pensa-se que a escolha deverá ser
> feita apenas baseado no "mérito" que obviamente vai depender completamente
> do contexto que estiver discutindo. O grande problema é que, sim, pode-se
> cair em profecias que se auto realizam e acabar utilizando isso como
> argumento pra perpetuação de preconceitos. Pense por exemplo no sistema de
> vestibular para universidade públicas no Brasil. Pode-se argumentar que
> quem entra é escolhido pelo mérito, quem estuda mais, quem é mais
> comprometido. Mas isso desconsidera completamente a história, os diferentes
> contextos culturais e educacionais num país com tanta desigualdade como o
> Brasil. Se quiser ver outros bons exemplos onde o conceito meritocracia foi
> utilizado para justificar a perpetuação de preconceitos eu sugiro o livro
> (não só por isso, mas também por o livro ser excelente food for thought,
> mesmo que não concorde com tudo que ler lá) "Sapiens: A Brief History of
> Humankind" do historiador Yuval Harari, quando analisa as desigualdades
> econômicas e sociais da população negra nos EUA que persiste até hoje mesmo
> após o término da escravidão (argumenta até que aumentou!).
>
> Ou se formos pensar no contexto acadêmico, quem recebe promoções de
> cargos, verbas para projetos, bolsas etc Pode-se argumentar que
> organizações como a USP/Fapesp/CNPq fazem isso baseado no mérito acadêmico.
> Mas daí recaimos em problemas como os que o Jorge citou ou critérios como
> número de publicações/citações que geram uma dinâmica onde o "rico fica
> mais rico".
>
> Agora se formos pensar na meritocracia aplicada na escolha de cargos
> políticos. Imagine que interessante seria se as escolhas dos ministérios
> fossem realizadas baseado no histórico dos candidatos aos cargos,
> especialmente no que se refere para obter um bom desempenho ao cargo
> específico. A dinâmica seria com certeza bem distinta da atual no Brasil,
> onde pessoas "aleatórias" são escolhidas como moeda de troca de poder
> político. Não teríamos idiotas como o Feliciano no cargo de presidente da
> Comissão de Direitos Humanos por exemplo, pessoas que nunca fizeram um
> projeto na área de Esportes para o Ministério de Esportes, etc
>
> E por fim, pode-se argumentar que a luta por dados abertos e transparência
> no planejamento e execução orçamentária do governo, está fortemente ligado
> com o fato de querer oferecer igual oportunidade para qualquer membro/grupo
> da sociedade poder avaliar e julgar o desempenho governamental de forma
> concreta baseada no mérito, ao invés de apoiar-se apenas em propagandas do
> Estado ou dinâmicas que se assemelham a escolha de time de futebol (PT é
> ruim buuuuh! PSDB é o melhor!!!).
>
> Enfim, eu ainda acho que a discussão poderia ser mais produtiva se
> tentassemos ao menos definir brevemente no que estamos interessados em
> discutir, ao invés de ficar nessa cacofonia dissonante onde boa parte do
> resultado é apenas ruído e ninguém ouvindo ninguém.
>
> E.
>
>
> Mas voltando ao ponto principal, o que estávamos aplicando desde março
>> havia
>> sido acordado coletivamente (inclusive com você, Tom) fazendo daquilo um
>> consenso. Se acha que algo não deu certo, e quer mudar, acho ótimo. Temos
>> sempre que rever nossas práticas e aprimorá-las. Mas o que exatamente não
>> deu
>> certo? Será que não conseguimos tratar esses pontos ao invés de romper com
>> tudo ficar discutindo valores sem saber direito as implicações deles?
>>
>>
>>
>> [2015-08-13 07:50] Everton Zanella Alvarenga:
>>
>> Olá Gustavo.
>>>
>>> Seja bem-vindo. Eu gostaria de registrar que gostei muito de sua
>>> intervenção
>>> para auxiliar na chegada de um consenso sobre o tema proposto. Essas
>>> formas de
>>> avaliação social é justamente o que acredito que podemos chegar e gostei
>>> da sua
>>> proposta em tentar achar uma intersecção.
>>>
>>> Concordo plenamente que essa leitura atual do significado de
>>> meritocracia está
>>> contaminando a discussão, por esse motivo, desde o começo, eu disse
>>> "Fica aqui
>>> a proposta para a meritocracia ser um de nossos valores como
>>> organização. E
>>> depois podemos escrever uma redação o que queremos dizer com isso, já
>>> que nem
>>> sempre ela se aplica (e. g., quando as condições iniciais e de ambiente
>>> não são
>>> de igualdade)."
>>>
>>> Desde a proposta inicial da discussão, eu alertei que a meritocracia nem
>>> sempre
>>> se aplica, citando um exemplo das desigualdades. Por isso mesmo acho a
>>> sugestão
>>> de leitura do Edgar na enciclopédia de filosofia de Stanford sobre
>>> igualdade de
>>> oportunidade é muito válida.
>>>
>>> Algumas manifestações parecem expor algo que já discutimos aqui em outros
>>> contexto, a tirania do pensamento único, muito manifestado nas últimas
>>> eleições
>>> e que resultaram numa polarização pouco salutar, cuja principal causa é,
>>> na
>>> minha opinião, a intolerância com formas diferentes de pensar.
>>>
>>> Agora temos que buscar quais seriam essas formas de recompensa diante do
>>> nosso
>>> trabalho, que deve ter um propósito mais claramente definido. Numa outra
>>> questão, que também causou divergências muito disruptivas, ficou claro
>>> que há
>>> pontos de vista diferentes sobre os rumos da organização e como ela deve
>>> ser
>>> conduzida. E teremos que aprender a trabalhar juntos com as diferenças
>>> ou cada
>>> um criar seu empreendimento, após acordado civilisadamente que
>>> discordamos.
>>>
>>> Mas o caminho é esse, busca o consenso e seu olhar mais externo trouxe
>>> luz para
>>> a discussão. Vamos tentar achar esses mecanismos que apontou e ver as
>>> vantagens
>>> e desvantagens de cada valor sendo proposto (curiosamente, ambos valores
>>> foram
>>> propostos por mim e um deles estou revendo ;).
>>>
>>> Everton
>>>
>>> Em 12 de agosto de 2015 16:43, Gustavo Sales <vatsu21 em gmail.com>
>>> escreveu:
>>>
>>>     Olá, pessoas. Tudo bom?
>>>
>>>     Resolvi fazer minha primeira contribuição e em tema controverso. É
>>> um risco
>>>     que assumo. Afinal ainda estou tomando contato com a cultura da
>>> OK-Br.
>>>
>>>     Assim, peço, antecipadamente, desculpas caso minha intenção em
>>> colaborar
>>>     esteja fora do momento e/ou do foro adequados.
>>>
>>>     Ao que puder perceber, há por um lado a preocupação com uma melhoria
>>> na
>>>     governança e por outro o receio que questões levantadas na sociedade
>>> sobre
>>>     a meritocracia contaminem a organização.
>>>
>>>     Gostaria de dizer que, com o olhar ainda não enviesado pela política
>>>     organizacional, vejo uma intersecção interessante que talvez possa
>>> ser
>>>     explorada.
>>>
>>>     Com certeza, a fazer-cracia é importante para que as iniciativas
>>> tomem
>>>     forma com o mínimo de "fricção" organizacional possível. Por outro
>>> lado,
>>>     talvez os resultados do que se faz podem não ser adequados àquilo
>>> que a
>>>     organização necessita. Se fiz uma leitura correta e esse é o
>>> problema de
>>>     governança que se apresenta, acredito ser possível explorar formas
>>> de haver
>>>     controle social dos resultados apresentados. Em outras palavras, não
>>>     haveria motivo para ferir a fazer-cracia em si, mas sim a adição de
>>>     mecanismo para avaliação das ações.
>>>
>>>     Assim, as "recompensas" organizacionais não seriam apenas pautadas
>>> em quem
>>>     mais fez, como seria na "fazer-cracia", mas também seriam pautadas na
>>>     avaliação social das ações (pode-se argumentar que há análise de
>>> mérito
>>>     neste quesito).
>>>
>>>     Sendo assim, não haveria imposição alguma à livre-iniciativa dentro
>>> da
>>>     organização, mas estaria-se endereçando a preocupação com a
>>> governança.
>>>
>>>     Uma possível forma de implementação, seria uma avaliação das ações
>>> por
>>>     parte de todos envolvidos em dada ação. Poderia-se implementar tal
>>>     avaliação em ambiente eletrônico, com indicadores como, por exemplo:
>>>     aderência aos objetivos da OK-Br, observação de prazos negociados,
>>>     atingimento das metas estabelecidas pelo grupo participante da ação,
>>> etc.
>>>     Tal avaliação poderia ser 360 graus.
>>>
>>>     O que acham? Acreditam que em algum ponto deste email há algo que
>>> possa ser
>>>     expandindo para a construção de consenso mínimo sobre o tema?
>>>
>>>     Muito obrigado pela paciência com o novato aqui :D
>>>
>>>     Forte abraço,
>>>
>>>     Gustavo
>>>
>>>
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