[okfn-br] Sugestão de transparencia para partidos
Joao Francisco Resende
joaofresende em yahoo.com.br
Sexta Setembro 18 12:50:54 UTC 2015
Prezada Heloisa,
Com todo o respeito, gostaria fazer um comentário sobre este trecho de
sua mensagem: "Uma idéia, defendida pela Marina no nosso debate, e por
Kim Kataguiri ontem num debate, é permitir candidaturas individuais, que
competiriam diretamente com estruturas partidárias viciadas. Ótima
idéia..."
Discordo de sua opinião de que seja uma "ótima ideia" essa proposta
defendida pelo histriônico Kim Kataguri, de candidaturas individuais a
cargos eletivos, competindo diretamente com as "estruturas partidarias
viciadas".
Isso a meu ver apenas aumentaria a personalização, o individualismo e a
busca do auto-interesse existente na política institucional brasileira,
que já é alarmante, considerando os vários "partidos de aluguel", muito
fisiológicos, sem articulação com grupos da sociedade, que não raro
existem apenas para servir de balcão de negócios e plataforma legal para
amparar candidaturas e captar recursos para campanhas eleitorais de seus
donos.
Partidos políticos ainda são fundamentais no modelo de democracia
representativa em que vivemos. Isso é corroborado na teoria política
moderna e na experiência histórica. Às iniciativas de enfraquecimento ou
desmantelamento de sistemas partidários (o conjunto dos partidos e não
de um ou outro específico) geralmente segue o enfraquecimento do próprio
regime democrático, com a ascensão ao poder de grupos políticos radicais
(de variados matizes ideológicos), que passam a impor suas ideias e
políticas sem a devida discussão e deliberação democrática, ou seja, sem
a mediação de instituições como os partidos e o parlamento.
Infelizmente esse rapazote, Kim Kataguri, tem ganhado muitos holofotes
nos últimos meses em razão de seus comentários ácidos e propostas
inconsequentes para a política brasileira. Isso porque nos falta novas
lideranças políticas mais consistentes e porque boa parte da mídia
corporativa assumiu abertamente uma postura de "quanto pior, melhor"
como objetivo de tirar do poder o atual grupo político que aí está (e
apesar de todos os seus muitos defeitos, tem legitimidade pois foi
eleito democraticamente). Nesse contexto, adolescentes desvairados e
vaidosos como Kim Kataguri passam a ter espaço em editoriais de grandes
jornais para apoiar coisas como "a refundação da República" com base na
eliminação da estrutura estatal e na extinção dos bens e serviços
públicos. Um ultra-neo-liberalismo de botequim com vernizes
intelectuais.
Uma democracia política poderá existir um dia sem o modelo convencional
de partidos políticos criado e desenvolvido ao longo dos séculos 19 e
20? Penso que sim e apoio iniciativas como o Podemos (Espanha) e a Raíz
Movimento Cidadanista que está surgindo neste momento no Brasil, que
buscam construir essas alternativas de organização política mais
horizontal, participativa, aberta.
Mas acredito que a solução para crise da democracia representativa no
Brasil passa pelo revigoramento do atual sistema partidário criado no
fim da ditadura de 1964-1985 e não pelo seu esvaziamento ou eliminação,
com base numa ideia de que indivíduos isolados seriam melhores
representantes dos anseios da sociedade.
Saudações, João Francisco Resende.
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